Título: Imposto come 42% da alta do PIB
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2006, Economia & Negócios, p. B6
Estudo mostra que, de 1998 a 2005, a economia do País cresceu 17,1%, mas não sobrou nada para o setor privado
Nos últimos sete anos, a capacidade de investimento do setor privado foi sufocada pelo crescimento da carga tributária, aumento nos gastos do governo e ajuste nas contas externas do País. É o que mostra um estudo do economista Fernando Montero, da corretora Convenção.
Montero, secretário-adjunto de Política Econômica no governo Fernando Henrique Cardoso, calcula que, de 1998 a 2005, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 17,1%. Dessa riqueza adicional, pouco menos da metade (7,2 pontos porcentuais, ou 42%) foi para o setor público via impostos. Os restantes 9,9 pontos foram para o exterior na forma de exportações.
"Não sobrou nada para o setor privado", concluiu o economista. "Ou seja, o maior prejudicado é justamente o principal responsável pelo crescimento econômico", comentou ele.
O levantamento mostra que, a cada ano aumenta a parcela do PIB absorvida pelo setor público via impostos. Também as exportações, após a adoção do câmbio flutuante, seguiram trajetória de crescimento.
"Imagine um grupo de amigos que toda semana divide uma pizza. A cada semana, é comprada uma pizza maior. Apesar disso, um deles fica com uma fatia cada vez mais fina. E esse é quem paga a pizza. É o que está acontecendo com o setor privado", comparou.
As conclusões de Montero não surpreenderam o economista Raul Velloso, que há anos prega a necessidade de conter os gasto públicos. "Nos últimos anos, temos observado que o investimento privado e o investimento do governo são os grandes perdedores", disse Velloso. "É um processo insustentável."
Velloso acha que a falta de investimentos criará limites na produção das empresas e na infra-estrutura e isso será um impeditivo para que os juros continuem caindo. "O Banco Central vai ficar de olho, preocupado com o crescimento da capacidade instalada", observou. "Uma hora isso vai bater num gargalo e pressionar a inflação."
O gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, concorda que a capacidade de investimento diminuiu com o avanço do Estado. "Quem gera riquezas no País é o setor privado e o governo se apropria de parte dela cobrando impostos", explicou.
Além do aumento dos gastos públicos, o investimento privado ficou pressionado porque parte da riqueza extra produzida foi exportada. Velloso acha que, nesse caso, o movimento foi benéfico porque a conta das transações com o exterior passou a ser positiva e o País se tornou menos vulnerável aos humores do mercado externo.
Para Castelo Branco, esse foi um movimento "precoce". Segundo ele, o saldo positivo nas transações com o exterior significa que, no balanço geral do comércio, dos investimentos e de outras transações, o País deixou de absorver recursos internacionais. Na sua avaliação, uma economia emergente como a brasileira deveria seguir absorvendo recursos externos.