Título: Lula e o Plano B ante possível saída do ministro Palocci
Autor: Sonia Racy
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2006, Economia & Negócios, p. B2

A situação do ministro Antonio Palocci é delicada, e continua se agravando, mesmo ante a admissão ontem, pelo ministro, de que tanto o governo como o PT e ele próprio cometeram erros na atual crise política. A oposição apresentou requerimento à Mesa da Câmara pedindo que o STF investigue o ministro por crime de responsabilidade, o Correio Braziliense acusou o ministro de ter freqüentado casa em Angra dos Reis a bordo de um helicóptero de propriedade do empresário angolano, de bingo, Artur José de Oliveira Caio e o desfecho sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa com envolvimento do governo no caso prometem mais encrenca.

Isso tudo, de acordo com sondagens feitas pela Arko Advice, do consultor Murilo Aragão, não desanimou o presidente Lula, que quer manter Palocci até o "limite", seja lá o que isso significa. Por outro lado, o presidente Lula não pode deixar de ter um Plano B. E, dentre as hipóteses de substituição examinadas, estão Murillo Portugal, Aloizio Mercadante, Paulo Bernardo, Luiz Fernando Furlan, Guido Mantega e Ciro Gomes. Ante este quadro, Aragão avalia:

Murillo Portugal tem a simpatia do mercado e seria capaz de fazer uma transição sem traumas. Mas encontra resistência de setores do PT.

Aloizio Mercadante já teve mais resistências no mercado, amainadas por postura adotada desde o ano passado, quando também surgiram rumores sobre a eventual saída de Palocci. Mercadante tem se mantido discreto e evitado fazer críticas à política econômica. Sua escolha não chegaria a acender o sinal vermelho no mercado financeiro, mas tampouco seria motivo de comemorações. Percalço: teria que abrir mão do projeto de ser candidato ao governo de São Paulo.

Paulo Bernardo pode enfrentar problemas. Ele foi acusado de envolvimento num suposto caixa 2 para financiar a reeleição do prefeito de Londrina, o petista Nedson Micheleti. Assim, o governo teme que o tiroteio ao ministério continue.

Luiz Furlan, apesar de ter idéias diferentes sobre a atual política econômica, não causaria ruídos. Tem a vantagem de já estar no governo e conhecer as regras do jogo de pressões.

Já os nomes de Guido Mantega e Ciro Gomes são vistos com ressalva pelo mercado financeiro.

O presidente Lula, pelo que apurou a Arko Advice, acha que o mercado financeiro já aderiu à candidatura de Geraldo Alckmin e que de pouco vale colocar alguém mais ou menos confiável, desde que a política continue a mesma. "É uma visão equivocada. Lula não deve agir para pôr o mercado contra ele", observa Aragão. O ideal, diz, seria dar uma mensagem de continuidade da política, lembrando-se também de Joaquim Levy.

Os próximos dias serão cruciais para Lula. Na sexta-feira, acaba o prazo de desincompatibilização de candidatos, obrigando o presidente a mudanças ministeriais. Aragão não acredita que Lula decida o destino de Palocci antes disso.

IMPRESSÃO DIGITAL Na tentativa de antecipar o andar da carruagem, o Ciesp criou pesquisa medindo a atividade econômica no meio do mês. Desde setembro, a cada dia 15, faz a sondagem por meio de amostragem, sendo que o sistema se consolidou em janeiro. "Estávamos vendo padrão de equílibrio entre quem diminuiu, aumentou e manteve a produção. Agora, em março, houve descolagem negativa: 51% das empresas diminuíram a produção, 23% mantiveram e 26% aumentaram", contou ontem Cláudio Vaz, do Ciesp. Basicamente por causa de uma redução das exportações.

Ressalva: não são contabilizadas empresas como Petrobrás, Vale ou Embraer.

NA FRENTE GANGORRA FORTE Após a divulgação dos números da venda de imóveis novos nos EUA, abaixo do esperado, os juros dos treasuries caíram por lá e os juros, por aqui, também.

À tarde, os mercados esperavam que o ministro Antonio Palocci desse alguma definição sobre sua permanência no governo em sua palestra na Amcham. Como a definição não veio, os juros e o dólar que estavam em baixa subiram e a bolsa, que estava em alta, caiu. No fim da tarde, porém, a Bolsa acabou retomando o sinal positivo...

ADESÃO Paulo Skaf assinou ontem documento de apoio da Fiesp ao movimento Quero Mais Brasil, cuja missão é mobilizar a sociedade para identificar e propor soluções para as grandes questões nacionais.

ADESÃO 2 Mauro Molchanski, presidente da RealAssets, acaba de voltar de Nova York, onde assinou uma parceria com o economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Princeton.

Scheinkman atuará como conselheiro para os produtos de previdência privada da empresa.

JUSTIÇA A Rede Forte de Postos de Combustíveis informa: conseguiu que a 8ª Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo, em decisão unânime, anulasse sentença favorável à Petrobrás Distribuidora, em ação indenizatória por ruptura de contrato.

CLORO O mercado pergunta: quem é o empresário angolano de bingo Artur José de Oliveira Caio que deu carona a Palocci? Segundo se apurou, Caio veio para o Brasil e montou, com um sócio, uma fábrica de máquinas de bingo em Ribeirão Preto.

Como o bingo não foi liberado, fechou a fábrica e, há um ano, mora nos EUA.

CURTAS O ministro Walfrido Mares Guia visitou ontem o Centro Tecnológico da TAM em São Carlos, bem como o Museu Asas de um Sonho, a ser inaugurado durante programação oficial do Centenário Santos Dumont. O museu, entre outras, conta com mais de 50 aeronaves antigas restauradas.

Susanna Sancovsky, co-autora do livro Nem só de Marketing..., juntamente com Roberto Teixeira da Costa, faz duas palestras quarta-feira. Na hora do almoço, para executivas e mulheres de negócios e, no fim do dia, para o Fórum de Jovens Empreendedores, da ACSP.