Título: Iniciativa não é suficiente, diz agência de risco Fitch
Autor: Adriana Fernandes e Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2006, Economia & Negócios, p. B5

Embora considere positiva a estratégia do governo brasileiro de quitar parte de sua dívida externa, como a recompra dos títulos bradies feita ontem, a agência de classificação de risco Fitch Ratings considera que essa iniciativa não é suficiente, de uma forma isolada, para resultar numa elevação da nota soberana conferida ao País, que atualmente é BB-.

"Uma maior claridade nas reformas estruturais e no programa fiscal após a recente mudança no Ministério da Fazenda seria essencial antes de elevar a classificação do Brasil", disse a Fitch em comunicado.

Até agora, o Tesouro já resgatou cerca de US$ 4 bilhões da dívida externa e deve efetuar a recompra de cerca de US$ 6 bilhões dos bradies remanescentes nos mercados. O plano do governo, anunciado em fevereiro, é de quitar um total de US$ 20 bilhões.

Entre as razões para sua avaliação cautelosa, a agência observa que a recompra da dívida externa concretizada pelo País é relativamente modesta, representando 2,3% do PIB.

"Deverá ocorrer uma melhora na dívida geral bruta do governo em relação ao PIB, mas não haverá melhora na dívida líquida do setor público, pois as reservas estrangeiras serão reduzidas", disse a Fitch.

"Embora a dívida bruta externa deva declinar, ela ficará ainda significativamente acima da média dos países classificados como BB", acrescentou a agência. Além disso, acrescentou, "embora o governo possa reduzir a sua vulnerabilidade externa, o fará às custas da liquidez interna". Como exemplo, a agência calcula que após a recompra dos bradies, os depósitos do Tesouro devam cair em cerca de R$ 40 milhões.

"Enquanto a média da maturidade da dívida doméstica brasileira tenha sido alongada, o total das necessidades gerais de financiamento do governo permanecem em elevados 25% do PIB (excluindo os ativos do Banco Central, cujo índice é de 18%), o que serve de argumento para um colchão financeiro maior, e não menor, como uma precaução para choques futuros."

Fitch salienta que em apenas três anos, a flexibilidade externa e fiscal do País melhorou claramente. "Isso foi reconhecido por nós através de vários upgrades entre 2002-2004 e em outubro do ano passado, quando colocamos a nota do País com a perspectiva positiva", disse. "Acreditamos que o Brasil poderá se tornar um credor público externo líquido até 2008, distinguindo-se na categoria BB."

A agência alerta que a manutenção do superávit primário pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, é importante para colocar a pesada carga da dívida brasileira numa trajetória de queda.