Título: Presidente pede a claque que evite vaiar aliados
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2006, Nacional, p. A14

Constrangido com apupos a um deputado e ao governador, ele avisou que alianças são necessárias

VITÓRIA

Mesmo com aplausos e gritos de apoio à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a claque petista não estavam afinados. Em discurso ontem no Porto de Vitória, ele teve de pedir "de coração" aos "companheiros" para evitar vaias aos aliados do Planalto, justificou as alianças com partidos envolvidos no esquema do "mensalão", rebateu críticas às viagens presidenciais e lembrou da importância de mobilizar a tropa em momentos difíceis. "Tropa com moral baixa não ganha a guerra", afirmou.

Lula ficou constrangido com as vaias dos petistas ao senador Magno Malta (PL-ES), e avaliou que projetos de interesse do governo que são levados ao Legislativo dependem de alianças com senadores e deputados e senadores. "No Brasil é assim", disse o presidente. "O governo quer trabalhar e tem uma banda que não quer. Com uma mão a gente lava a outra, e com as duas toma banho, se for o caso."

O presidente demonstrou constrangimento ainda com as vaias ao governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), que segundo o presidente mantém uma relação exemplar com o governo. "Sei das pendengas políticas no Estado e na cidade", disse Lula. "Estamos entrando num ano delicado, preciso de 40 votos no Senado e só tenho14, e na Câmara tenho cerca de cem e preciso de 240", completou. "Só queria que as disputas locais não atrapalhassem as alianças nacionais."

Depois de tocar atabaque e berimbau na Bahia no início da semana, Lula posou ontem com uma casaca, instrumento típico das bandas de congo capixaba. Ainda usou um quepe de comandante e falou do prato típico do Espírito Santo. "Moqueca só capixaba, o resto é peixada", disse.

EXPLICAÇÃO

Lula negou usar as viagens para ganhar votos. Diante de um militante que subiu ao palco com duas cadelas da raça pintcher, ele disse à platéia que seria processado porque um dos animais estava com estrelas do PT, numa ironia à oposição. "Vocês vão ler na imprensa amanhã que alguns partidos vão entrar com processo contra mim por causa dessa cachorrinha", afirmou. "Em todo lugar que eu vou é assim, anota aí, porque vou ser processado, pois a Princesinha (nome da cadela) fez campanha."

Como num programa de auditório de televisão, o presidente perguntou quem sabia tocar casaca. Um rapaz subiu ao palco para tocar o instrumento. Depois, Lula começou a série de ataques à oposição. No discurso, ele lembrou das derrotas nas eleições de 1989, 1994 e 1998.

"Nunca lamentei ou chorei as derrotas, eu chorava sozinho mas não contava para vocês", disse. "Em janeiro (depois das eleições perdidas), já estava saindo outra vez para conversar com a tropa e levantar a moral da tropa."

Na passagem por Vitória, Lula evitou contato com a imprensa. Os jornalistas tiveram de ficar num espaço atrás da área ocupada pela claque petista. Uma outra área, de frente para o palco, foi reservada para políticos e empresários capixabas. Lá estavam pessoas ligadas a supostos envolvidos em diversos esquemas de corrupção no Espírito Santo. Era o caso de antigos assessores do ex-governador José Ignácio Ferreira.