Título: "Se não tivesse fé, já teria chutado o balde", diz Nildo
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2006, Nacional, p. A11

Mesmo diante da ofensiva desencadeada pelo governo desde que desmentiu o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o caseiro Francenildo Santos Costa, o Nildo, disse ontem que não se arrepende do que fez. Em entrevista ao Estado e no depoimento à CPI dos Bingos, ele falou sobre as idas de Palocci à casa alugada por seus amigos de Ribeirão Preto onde se reuniam empresários e garotas de programa. "Falei sempre a verdade e ninguém que fala a verdade pode se complicar", disse ontem. Afirmou que mantém a força graças às orações de sua avó, Maria das Dores, "uma beata", e da fé que tem em Deus. "Se eu não tivesse fé em Deus, já tinha chutado o balde."

Nildo disse que não dava mais para fazer de conta que não sabia de nada, enquanto "pessoas poderosas" continuavam mentindo. "Estava tudo entalado, eu não podia continuar vendo aquele sem-vergonha mentindo", alegou. "Hoje, ele está ministro, mas depois poderia virar presidente e governar o Brasil."

O caseiro contou que se surpreendeu com as reações. "Pensava que não ia chegar aonde chegou", disse. "Não tenho medo, não. A verdade dói, mas é boa. O que me deixa constrangido é ter votado neste PT, que está me desrespeitando."

Disse estar vivendo os momentos mais difíceis de seus 24 anos, mesmo tendo começado a trabalhar na roça aos "6, 7 anos". Se pudesse escolher, contou que gostaria de ir "para bem longe do Brasil" até que tudo voltasse ao normal. Ou seja, retornar ao trabalho, às aulas do curso supletivo, ao futebol no fim de semana e ao prazer de assistir aos jogos do Palmeiras. Por ora, disse que dorme cada dia em um "canto".

Nildo afirmou que resolveu abrir a conta na Caixa quando recebeu R$1.012,26 de um acerto com o patrão. E decidiu que iria usar o dinheiro para voltar ao Piauí e pedir para ser reconhecido como filho pelo empresário Eurípedes Soares. Nildo citou o secretário particular de Palocci, Ademirson Ariosvaldo da Silva, e o ex-assessor da prefeitura de Ribeirão Vladimir Poleto entre as pessoas que o estimularam a procurar o pai.