Título: Hu compra para acalmar EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2006, Economia & Negócios, p. B10

O presidente da China, Hu Jintao, chegou ontem aos Estados Unidos para uma visita de quatro dias, na qual tentará apaziguar os ânimos de políticos e empresários americanos, inconformados com o gigantesco superávit comercial do país asiático em relação aos EUA, que chegou a US$ 202 bilhões no ano passado. Para os americanos, a China só consegue essa vantagem porque mantém o yuan artificialmente desvalorizado, o que facilita a colocação de seus produtos.

Como parte dessa política, Hu confirmou os contratos para a aquisição de bens e serviços dos EUA que foram acertados na semana passada por um grupo de dirigentes que visitou o país e incluía o vice-primeiro-ministro, Wu Yi (ver boxe). Em nota à imprensa, o presidente afirmou que as relações entre os dois países "passam por um ímpeto de crescimento", e que as duas nações dividem a responsabilidade de promover a paz e o desenvolvimento mundiais.

Tão logo chegou a Seattle, Hu foi para Everett, a 50 quilômetros da maior cidade do Estado de Washington, onde foi saudado por lutadores de kung fu e estudantes, e também pelo governador Chris Gregoire e Howard Schultz, presidente da rede de cafeterias Starbucks.

Depois voltou a esta cidade para visitar a fábrica da Boeing e para jantar com o presidente da Microsoft, Bill Gates, em sua casa de US$ 100 milhões. No bairro chinês de Seattle, muitas lojas tinham bandeiras chinesas e americanas, para saudar o visitante, mas a polícia esperava manifestação do grupo Falun Gong, que promove meditação espiritual, e que foi banido da China em 1999. De acordo com o jornal oficial China Daily, de Pequim, a visita "servirá para eliminar dúvidas e suspeitas das mentes dos americanos a respeito da China".

Mas a questão principal continua sendo a desvalorização artificial do yuan, que segundo os americanos, está 40% abaixo de seu valor efetivo. Robert Zoelick, subsecretário de Estado, disse que a China está "agonizantemente lenta" em reagir à exigência dos EUA para que valorize a moeda.

John Frisbie, presidente do Conselho Comercial EUA-China em Washington, espera que Jintao prometa combater o desequilíbrio comercial e a pirataria de produtos americanos, mas não acredita numa valorização abrupta do yuan. "Não esperamos a valorização por causa desta visita. Mas esperamos uma valorização contínua e gradual da moeda ao longo deste ano", afirmou. Recentemente, autoridades chinesas disseram que a pressão americana não influirá na questão cambial.

Hoje, Hu Jintao irá se encontrar com o presidente americano, George W. Bush, em Washington. "É claro que eu pretendo discutir a ambição do Irã de ter armas nucleares", disse Bush. "Vamos continuar no trabalho diplomático para resolver este problema." Analistas lembraram que além da questão comercial e do programa nuclear iraniano, Hu pretende obter a promessa de Washington de que os EUA não apoiarão a independência de Taiwan, como pretende o presidente dessa província, Chen Shui-bian.