Título: Esquema manteve imprensa à distância
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2006, Nacional, p. A6

O ministro Antonio Palocci aproveitou o convite da Câmara Americana de Comércio para discursar na posse de seus novos conselheiros e pôs em prática uma "operação normalidade" de resultados duvidosos. Deixar Brasília, viajar até São Paulo e falar num enorme auditório cheio de empresários, sobre os bons ventos da economia, seria uma forma de mudar o clima e recuperar prestígio. Mas os auxiliares do ministro impuseram uma condição: que a imprensa fosse mantida longe dele, para evitar "abusos e constrangimentos".

"Não queremos que (a presença de Palocci) vire um rebuliço, com gente avançando em cima", explicou um dos negociadores de Brasília aos representantes da Câmara. Começou então uma negociação delicada em que o ministério propôs, de início, que os jornalistas ficassem numa sala ao lado, vendo tudo por um telão. Os anfitriões, que foram sempre avessos a tais expedientes contra a imprensa, tentaram amaciar o clima. Ao final, valeu uma sugestão da Amcham de se criar um espaço à esquerda do palco do salão principal, onde ficariam fotógrafos e repórteres, a quase 10 metros da mesa onde estaria o ministro. No espaço, tão exíguo, nem havia como oferecer almoço aos jornalistas, que ali ficaram esperando todos almoçarem e, por fim, os discursos começarem.

O ministro chegou atrasado e entrou por uma porta lateral. Depois de seu discurso, de 40 minutos, foi-se embora sem falar com ninguém. Ficou no local menos de duas horas e deixou atrás de si empresários satisfeitos com sua garantia, indireta, de que não deixará o cargo. Mas para a maioria deles ficou claro, também, que o visitante era uma figura constrangida e não muito bem-sucedida no esforço de separar o trabalho no ministério das denúncias sobre seus amigos e suas atividades privadas.