Título: Petrobrás e Bolívia negociam em sigilo
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2006, Economia & Negócios, p. B13

O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e a direção da Petrobrás se reuniram na segunda-feira com o ministro dos Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada, para discutir a nacionalização das reservas bolivianas de petróleo e gás. O encontro, totalmente confidencial, foi realizado na sede da empresa, no Rio. A visita de Soliz Rada ao Brasil nem foi divulgada pelo governo boliviano para evitar alarde.

Procurados pelo Estado, o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Petrobrás evitaram comentar o teor das conversas. Os governos brasileiro e boliviano fizeram um acordo de sigilo sobre as negociações a respeito da regulamentação da Lei dos Hidrocarbonetos da Bolívia, com o objetivo de evitar discussões pela imprensa, como a ocorrida no mês passado, quando Soliz Rada e o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, trocaram farpas pelos jornais.

Na avaliação de executivos do setor, o encontro sinaliza que a Petrobrás terá tratamento diferenciado nas negociações sobre a nacionalização das reservas bolivianas, já que algumas companhias não têm conseguido agendar conversas com representantes do governo.

A estatal é a maior investidora no país vizinho, que é responsável por cerca de 50% do gás consumido no Brasil, e apresentou uma série de projetos de investimento para evitar a perda de seus ativos. Segundo fontes do governo, uma nova reunião entre as partes será marcada nas próximas semanas.

O governo boliviano prepara um decreto para regulamentar a Lei dos Hidrocarbonetos, que trará os novos contratos de concessão do mercado de petróleo e gás do país. Setores mais radicais defendem a implementação de contratos de prestação de serviços, segundo os quais as petroleiras estrangeiras se tornariam contratadas da estatal local Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB), que teria o controle da produção. Esse modelo sofre grande resistência das empresas.

Segundo um executivo de multinacional com operações na Bolívia, as empresas privadas querem manter o direito de comercializar a produção, além de continuar operando as instalações.