Título: Coaf enviou só 6 relatórios sobre valerioduto à CPI
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2006, Nacional, p. A4

Caso de Nildo é atípico pela agilidade do conselho

BRASÍLIA

Em nove meses de trabalho das CPIs dos Correios e do Mensalão, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) foi econômico nas informações prestadas aos parlamentares para esclarecer as movimentações financeiras do valerioduto por meio do Banco Rural, Banco do Brasil e outras instituições. Segundo informações obtidas pela CPI dos Correios, o presidente do órgão de fiscalização do Ministério da Fazenda, Antônio Gustavo Rodrigues, enviou apenas três ofícios ao Congresso e não mais do que meia dúzia de relatórios sobre saques milionários em dinheiro.

Em vários casos, os documentos procedentes do Coaf serviram simplesmente para informar não haver dados disponíveis para o requerimento da CPI, provocando a irritação de senadores e deputados. O que mais chama a atenção dos oposicionistas, entretanto, é que o Coaf nunca tenha investigado em profundidade a movimentação financeira das empresas do publicitário Marcos Valério, que em dois anos e meio de governo Lula registrou centenas de saques em dinheiro superiores a R$ 100 mil.

Todos esses saques eram sistematicamente informados pelos bancos ao Coaf, mas nunca despertaram a desconfiança da fiscalização.

As estatísticas do próprio Coaf indicam que em 2004 o órgão recebeu 85.152 comunicações de operações atípicas ou em espécie. Apenas 453 (0,53%) foram encaminhadas para investigação pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.

Em média, o órgão recebe 228 comunicados diários do sistema financeiro sobre operações atípicas ou em espécie e encaminha para investigação das autoridades competentes apenas um deles.

Teria sido uma grande coincidência o caseiro Francenildo Santos Costa, responsável pelas denúncias contra o ministro Antonio Palocci, ter sido o escolhido entre centenas de outros casos na sexta-feira da semana passada - e por ter recebido um depósito atípico de R$ 25 mil em sua conta corrente na Caixa Econômica Federal.

NOTA

O Ministério da Fazenda divulgou ontem nota negando que o Coaf tenha pedido à Polícia Federal investigação sobre a movimentação financeira do caseiro.

O ministério dirigido por Palocci sustenta que "o Coaf não conhece as pessoas ou clientes para julgar se suas movimentações financeiras são suspeitas".