Título: PF acusa Caixa de atrapalhar investigação da violação de sigilo
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2006, Nacional, p. A4

Informações desencontradas irritam delegado, que vai intimar de novo o presidente da instituição

A Polícia Federal acusou ontem a Caixa Econômica Federal de dificultar as investigações a respeito da violação da conta bancária do caseiro Francenildo Santos Costa, o Nildo, que acusa o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de freqüentar uma mansão alugada em Brasília por lobistas de Ribeirão Preto. Em comunicado transmitido pela assessoria da PF, o delegado Rodrigo Carneiro Gomes, responsável pelo inquérito, disse que não aceitará manobras para proteger eventuais dirigentes da Caixa envolvidos no episódio.

"A polícia não compactua com a tentativa de transferir responsabilidades exclusivamente a pessoas de menor importância na cadeia de comando e que, portanto, não possuem o poder decisório", avisou o delegado. Diante das dificuldades, a PF vai intimar novamente o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, que faltou ao depoimento convocado para anteontem. Se ele não aparecer mais uma vez, poderá ser levado a depor sob coação policial.

Um dos episódios que mais irritaram os policiais ocorreu ontem. A PF pediu à Caixa o computador usado para tirar o extrato da conta do caseiro - documento repassado à imprensa com o objetivo de desacreditar seu depoimento. O delegado ficou surpreso ao ser informado pela CEF de que a máquina, um laptop deixado à disposição de um gerente, não estava em Brasília.

No meio da tarde, a PF chegou a divulgar que o computador tinha sumido, sugerindo que a Caixa estava empenhada numa operação para eliminar provas. Logo em seguida, o banco informou que o laptop estava em São Paulo, para onde o gerente tinha viajado.

A máquina foi localizada, lacrada na presença de policiais federais e remetida para Brasília. As providências foram insuficientes para satisfazer a PF, que agora quer saber se os arquivos e registros contidos no laptop foram alterados no período em que ele esteve fora de Brasília.

Os dois suspeitos pela violação identificados pela sindicância interna da CEF foram ouvidos ontem pelos policiais. Por ter dúvidas da responsabilidade dos dois funcionários, a PF recuou da intenção de divulgar seus nomes. A precaução foi adotada, conforme explicou a assessoria da PF, para preservar o direito constitucional à intimidade, ao contraditório e à ampla defesa.

Também chegou à PF a versão não confirmada de que a sindicância da Caixa já chegou ao nome do dirigente, ocupante de alto posto na instituição, que determinou aos dois subordinados a retirada do extrato da conta do caseiro. O gesto pode custar ao dirigente processos por vários crimes, além da demissão a bem do serviço público.

Ontem de manhã, o delegado Carneiro tomou o depoimento do gerente de Segurança de Informação da Caixa, Delfino Natal de Souza, por mais de cinco horas. Souza esteve acompanhado do presidente da Comissão de Sindicância que apura o caso na Caixa, Marco César Cazali, e dos advogados Jailton Zanon da Silveira e Elton Nobre de Oliveira.

Por meio dos advogados, Mattoso tentou cancelar a segunda intimação, alegando que os esclarecimentos prestados por eles e pelos demais diretores já ouvidos seriam suficientes. Mas a PF não aceitou a explicação e insistiu em marcar nova data para o depoimento na próxima semana.

A demora da Caixa em entregar e a da PF em concluir a identificação dos culpados pela quebra ilegal de sigilo da conta do caseiro está irritando o Congresso e particularmente a CPI dos Bingos, que enviou ofício ontem ao delegado cobrando explicações. Carneiro prendeu-se a um detalhe técnico - o ofício era assinado pelo secretário administrativo da comissão, e não por seu presidente - para não fornecer os dados pedidos.

O registro dos acessos está gravado no computador central, que funciona em uma antiga instalação do Serpro, localizada na Avenida Martin Luther King, em Osasco, na Grande São Paulo. A pedido de funcionários da própria Caixa, uma fonte alertou o Estado para a necessidade de a Polícia Federal ou o Ministério Público bloquearem o computador central em Osasco. A avaliação é que se a PF tiver acesso a ele acabará identificando as pessoas que violaram a conta do caseiro e definindo de onde partiu a ordem. "Somente alguém de cima poderia ter dado a ordem", disse o interlocutor dos técnicos da Caixa.

RISCOS

Essa mesma fonte disse que o temor entre os funcionários é de que esses registros acabem sendo apagados, já que o arquivo do computador IBM de Osasco, ainda que seja de proteção, pode ser violado. Um prazo de 15 dias, segundo técnicos do setor, é mais que suficiente para que os registros sejam adulterados.

Eles avaliam que a ordem partiu da vice-presidência de Tecnologia ou até mesmo da própria presidência do banco. No escalão inferior e técnico, teme-se que os funcionários envolvidos sejam os únicos punidos e os mandantes fiquem impunes.

Eles alertam que é preciso descobrir qual a senha usada para invadir a conta do caseiro. Daí a importância da investigação no banco de dados de Osasco, onde todos os registros de acesso podem ser facilmente identificados.