Título: Novos donos vão elevar em 40% investimentos na Light
Autor: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Economia & Negócios, p. B20

Maior parte dos recursos será usada para combater o grande índice de roubo de energia

Os novos controladores da Light anunciaram ontem que planejam aumentar em até 40% os investimentos anuais da concessionária. Hoje, o orçamento anual gira entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões. O executivo José Luiz Alquéres, que assumirá a presidência da companhia nas próximas semanas, contou que a maior parte dos recursos será usada para combater o grande percentual de roubo de energia.

A idéia é trabalhar com medidores de consumo mais modernos, que permitam uma redução mais significativa das perdas com furto de energia. Com longo currículo no setor elétrico, Alquéres já esteve à frente da área responsável por combater o consumo irregular na própria Light. O executivo conta que, na época, conseguiu baixar as perdas da empresa de 13% para 9%. Hoje, o cenário é diferente. As perdas representam 24% da energia comprada, sendo que as ligações irregulares - os gatos - respondem por 18% .

Alquéres trabalhou no processo de elaboração da proposta do consórcio RME (Cemig, Andrade Gutierrez, Pactual e o fundo de investidores JLA) que comprou por US$ 319,8 milhões a fatia de 79,6% do controle da companhia em poder da francesa EDF. O valor do negócio foi considerado baixo por analistas. Mas o novo presidente explicou que a quantia refletiu um longo trabalho de análise da situação da concessionária. Segundo ele, o consórcio apresentou a oferta mais alta e ainda se comprometeu a assumir uma dívida de R$ 3,5 bilhões, além de possíveis passivos ocultos, que ainda não foram reclamados.

"Nós assumimos os passivos totais. Oferecemos nossa credibilidade e capacidade de pagamento. Assumimos todos os R$ 3,5 bilhões e mais o que vier. Isso é muito importante em uma empresa de 100 anos", afirmou.

Mesmo assim, as ações da empresa registraram novas perdas ontem na Bovespa. Segundo Alquéres, os papéis da companhia vão passar por um período de ajustes no curto prazo.

Um dos pontos que a nova administração pretende atacar é o da comercialização. O executivo quer recuperar os consumidores livres - que podem escolher de quem comprar a energia, independentemente da área em que se encontram - que a empresa perdeu ao longo dos últimos anos. Para isso, a comercializadora de energia da Light será reativada.

Alquéres, porém, preferiu não adiantar qual será a estratégia do grupo para ganhar mercado nesta área e lembrou que a compra do controle da companhia ainda depende de aprovação de órgãos no Brasil e no exterior. A expectativa é de que esse processo leve cerca de 60 dias para ser concluído.