Título: Amorim sugere cortes só para Hemisfério Sul
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Economia & Negócios, p. B13

Chanceler diz que redução de tarifas poderia ser feita só entre países em desenvolvimento

A dois dias de se reunir com os secretários de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, e dos Estados Unidos, Robert Portman, que têm status de ministros, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, mandou ontem um recado para os países ricos. Em reunião do Fórum Índia, Brasil e África do Sul (Ibas), defendeu a redução de tarifas de importação de países do Hemisfério Sul apenas para beneficiar os demais na mesma metade geográfica do mundo.

Amorim afirmou que freqüentemente precisa lidar com ministros de países ricos na Organização Mundial do Comércio (OMC), como irá ocorrer amanhã e sábado. Nessas ocasiões, disse, "eles adoram dar lição", e dizem que a redução de tarifas é muito importante para o comércio Sul-Sul. E completou: "Nós sabemos disso e estamos fazendo (a redução). Mas isso não quer dizer que tenhamos de fazer também para eles (os ricos). Fazemos para nós (países em desenvolvimento)". A declaração foi feita durante reunião em que estavam presentes a ministra dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, Nkosazana Dlamini Zuma, e o ministro adjunto dos Negócios Estrangeiros da Índia, Anand Sharma.

Amorim destacou a importância que os três países tiveram na formação do grupo dos países em desenvolvimento que se formou na Rodada de Doha da OMC, o G-20. "O G-20 é hoje uma peça fundamental nas negociações de Doha. Sem o G-20 não haverá uma conclusão - não digo nem positiva, mas uma conclusão - da Rodada de Doha", disse.

O chanceler afirmou que 53% ou 54% das exportações brasileiras são para países em desenvolvimento. Depois, em entrevista, não quis responder perguntas sobre o encontro do fim de semana por estar dedicado ao fórum Ibas. "Acho que essa união (dos países do Ibas) tem mudado a qualidade da negociação da OMC", disse. "Estamos criando comércio Sul-Sul e, portanto, melhores condições de negociar (com os países desenvolvidos)".

O comércio do Brasil com a África do Sul, que em 2001 era de US$ 700 milhões, em 2005 atingiu US$ 1,7 bilhão. Com a Índia, o comércio bilateral cresceu de US$ 1 bilhão para US$ 2,5 bilhões.