Título: Investidor fica mais sensível às eleições após mudança
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Até a semana passada, os analistas de mercado consideravam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva imbatível nas eleições de outubro e incluíam nesse cálculo a permanência e fortalecimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o arquiteto do lado positivo da administração petista. O escândalo que motivou a saída de Palocci e sua substituição por Guido Mantega mudou o cenário e tornou a disputa presidencial um evento "sensível para o mercado", segundo nota ao clientes por Christopher Garman, do Eurasia Group.

O cálculo é que o episódio que derrubou Palocci tornou Lula vulnerável e seu principal contendor, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, competitivo. É um palpite que reflete estimativas que os analistas ouvem de seus consultores no Brasil, mas o efeito da mudança de expectativa sobre a eleição é claro. "É cedo para especular sobre o 2º mandato de Lula", disse Paulo Leme, estrategista para a América Latina do banco de investimentos Goldman Sachs. "O PSDB e Alckmin têm oportunidade para virar o jogo."

A maior incerteza política criada pela expectativa de que Lula cairá e Alckmin subirá nas pesquisas tem efeito tranqüilizador no mercado. "As eleições poderão mitigar os riscos", disse Alexander Kazan, do banco de investimentos Bear Stearns. "Se a nova dinâmica política pode tornar o mercado mais sujeito a guiar-se pela volatilidade eleitoral, a partida de Palocci em meio a sérias acusações e a probabilidade de investigações criminais devem fazer Alckmin subir nas pesquisas e isso ajudará a mitigar qualquer reação negativa à nomeação de Mantega." Ele ressalvou que pode levar algum tempo para "as mudanças da dinâmica política se manifestarem nas pesquisas".

Em contraste com outros países da região que escolherão presidente nos próximos meses, Kazan diz que "quaisquer deslocamentos que provoquem incerteza política e econômica no Brasil poderão ser transitórios e ser resolvidos com as eleições de outubro". No quadro do movimento maciço dos investimentos de renda fixa para ações, que o Bear Stearns prevê para os próximos dois anos no País, desde que as taxas de juros mantenham-se em queda, Kazan aconselhou os clientes a comprarem Brasil na baixa, a despeito das turbulências esperadas para os próximos dois trimestres em razão não só da eleição, mas da redução esperada dos fluxos internacionais de capitais para a América Latina.