Título: Cypriano espera corte de 1 ponto
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Segundo presidente da Febraban, há condições para acelerar queda

Apesar de acreditar que o Banco Central manterá o gradualismo nos cortes da taxa de juros básica (Selic), mesmo com a entrada de Guido Mantega na Fazenda, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e do Bradesco, Márcio Cypriano, aposta em quedas maiores na taxa, a partir de agora. "Acho que vamos ter uma surpresa de aceleração na redução da taxa de juros", disse Cypriano.

Segundo ele, há espaço para cortes mais relevantes e isso pode acontecer já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), com uma redução de um ponto porcentual na Selic.

"Acho que a taxa de juros talvez pudesse ter tido uma queda um pouquinho mais acelerada até agora, mas confio muito que na próxima reunião a gente tenha pelo menos 1% de queda", analisa Cypriano.

O mesmo movimento, para Cypriano, não deve se repetir na taxa de juros de longo prazo (TJLP), como já pediu inúmeras vezes o ex-presidente do BNDES e agora ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Não acredito que ela tenha uma queda mais forte."

O comunicado do Federal Reserve (FED), que indicou pressões inflacionárias no Estados Unidos, não preocupa o banqueiro. Ele acredita que a escalada dos juros americanos deve ser igualmente gradual. Cypriano considera 'passageira' a reação dos mercados à troca do comando da equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Acho a reação normal num momento de mudança de equipe econômica, mas o nervosismo talvez tenha sido mais influenciado pelo comunicado do FED do que pelos acontecimentos no Brasil". Para Cypriano, não existem razões sólidas para preocupação. "O ministro Guido Mantega foi muito claro na mensagem de que vai manter o tripé de responsabilidade fiscal, cambio flexível e a política de metas da inflação", comentou.

A análise positiva foi reforçada pelas mensagens do governo federal relativas ao papel que o Banco Central deve desempenhar a partir de agora. "Outro ponto é a autonomia prática do banco central, que foi uma informação importante", lembrou. "Isso confirma que o presidente Lula é o comandante da equipe econômica".

Cypriano não considera que o perfil desenvolvimentista do novo ministro da Fazenda e suas críticas anteriores as políticas monetária possam causar estresse nos mercados. "O Brasil continua na rota para alcançar a elevação para grau de investimento na classificação das agências de risco, o que deve acontecer em dois anos, no máximo".