Título: Bernardo não aposta em corte drástico na TJLP
Autor: Eduardo Kattah, Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Ministro do Planejamento lembra que CMN 'sempre é conservador' e diz que 'o momento' pesará na decisão

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que não aposta num corte "drástico" na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que serve de referência para os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Bernardo é um dos membros - ao lado do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles - do Conselho Monetário Nacional (CMN), que se reúne hoje para decidir sobre a TJLP.

Ao participar da abertura da programação dos encontros paralelos que antecedem a Reunião Anual de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Belo Horizonte, de 3 a 5 de abril, o ministro defendeu uma decisão técnica e consensual sobre a TJLP. E garantiu, apesar de não ter conversado sobre o assunto com o novo ministro, que a decisão deverá ser tomada até amanhã, último dia útil de março.

Mantega, quando ocupava a presidência do BNDES, propunha redução de 2 pontos porcentuais, de 9% para 7%, mas teria reavaliado sua disposição após assumir o cargo para não alimentar dúvidas em relação ao futuro da política monetária.

"Não aposto em nada drástico. Eu aposto em coisas viáveis, consensuadas, conversadas e embasadas tecnicamente", disse Bernardo, para quem o CMN "sempre é conservador".

A necessidade de redução das taxas de juros - o ministro citou a Selic e a própria TJLP - é hoje uma unanimidade no País, mas depende, fundamentalmente, da manutenção das premissas da política econômica.

DISCUSSÃO

Bernardo lembrou que a decisão sobre reduzir a taxa não pode ser tomada com base em uma opinião pessoal ou acadêmica. Enfatizou que "o momento" pesará na decisão.

"Nós vamos fazer uma discussão sobre o impacto, a conveniência, o momento. Eu, por exemplo, não tenho problema nenhum em discutir isso", disse, acrescentando que a discussão sobre a TJLP não é ideológica.

O ministro do Planejamento usou uma referência futebolística para afirmar que Mantega agora defende os interesses da Fazenda. "Ele não é mais o presidente do BNDES, ele é ministro da Fazenda. É como um jogador do Galo (Atlético-MG) que vai jogar no Flamengo e vai ter de fazer gol do outro lado. Ele vai defender a posição do Ministério da Fazenda."

Mas, diz Bernardo, um corte mais acentuado da taxa de longo prazo não assustaria o mercado. "Teve uma agitação mínima e eu acho que é normal isso. Não tem problema nenhum. E as palavras do ministro Guido, as palavras do Henrique Meirelles, o que o presidente Lula já disse, tranqüilizam."

AGITAÇÃO

Segundo Bernardo, "o Brasil tem de ter condições de fazer uma política econômica previsível, com a qual os agentes econômicos tenham condição de projetar e perceber o que vai acontecer no futuro".

Para ele, a previsibilidade é o fator que une os principais auxiliares na área econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - citou Henrique Meirelles, presidente do Banco Central (BC), Mantega, Dilma Roussef, ministra da Casa Civil, e ele mesmo.

Bernardo classificou como "mínima" a agitação do mercado nos últimos dias. "O mercado estava nervoso e o Tesouro agiu bem para deixar a turma esfriar a cabeça", disse, sobre o adiamento do leilão de títulos público na terça-feira. Ele reafirmou ainda que o Banco Central tem autonomia para comandar a política monetária.