Título: Lula: 'Não há mágica na economia'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Presidente volta a garantir, em encontro com empresários, que vai manter a inflação sob controle sem truques

No primeiro compromisso público após substituir Antonio Palocci por Guido Mantega no Ministério da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado aos empresários e ao mercado de que a política econômica não sofrerá abalos. Sem citar a crise, Lula assegurou que o Brasil vive um momento auspicioso."Obviamente temos muitas deficiências. Mas podem procurar qualquer analista, que poderá afirmar que, em poucos momentos, tivemos uma posição tão sólida como temos hoje", disse o presidente ao participar do Fórum Brasil-Itália, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ontem. Falando para uma platéia de cerca de mil pessoas, a maior parte de investidores brasileiros e italianos, Lula foi mais explícito. Afirmou que seu governo "não está disposto a fazer mágica na economia". Até porque, segundo ele, "não existe mágica, mas tomada de posição e seriedade".

Em segundo lugar, ressaltou, a inflação continuará sobre controle. "Não vamos permitir que a inflação volte para resolver o problema de caixa de alguns e do próprio Estado brasileiro."

Discursando de improviso - sua fala foi classificada por ele próprio como uma conversa - Lula usou boa parte dos 26 minutos da oratória falando de economia. "Acreditamos piamente que a credibilidade conquistada pelo Brasil ao longo dos últimos anos e a solidez de nossa política de comércio exterior e da macroeconomia permite dizer que se em alguns momentos em que não tínhamos essas condições favoráveis, vocês acreditaram no Brasil. Agora vocês precisam aportar definitivamente no Brasil." Ele ressaltou a importância da parceria entre o País e a Itália.

Lula também destacou a dinâmica do Brasil. Aos pessimistas, advertiu: "Não há análise negativista que impeça acontecer aquilo que está para acontecer." Ele disse que sempre se está cobrando por algo que falta. "É preciso pensar de forma positiva. Acreditar que é possível, porque muitas vezes temos um prato de comida bem feita, bem temperada, e ao invés de agradecer, se prefere reclamar do que não tem no prato." Porém completou: "Mas é bom que seja assim a humanidade. Assim caminha a humanidade."

Menos descontraído que de costume, Lula insistiu na necessidade de o povo acreditar em si próprio. "Só falta uma definição para que saiamos da eternidade de sermos um País emergente para nos transformarmos em uma grande nação. E o que falta somos nós, brasileiros e brasileiras, acreditarmos que esse passo depende única e exclusivamente de nós."

Lula ainda falou do aumento das exportações do País em seu governo e mencionou, que algumas vezes, fora criticado por ações não compreendidas no setor. Ele citou como exemplo os gastos de U$ 500 mil do governo na viagem aos países árabes. "Ao invés de esperar os resultados, criticaram os U$ 500 mil sem saber quantos U$ 500 mil ganharíamos por conta do evento." Neste mundo "ninguém dá nada a ninguém; neste mundo globalizado onde uma palavra vale um bom negócio ou um bom fracasso."

EMBAIXADAS

Insistindo que o Brasil está preparado em vários ramos da atividade econômica para receber os empresários italianos, Lula aproveitou as presenças do embaixador do Brasil na Itália, Adhemar Gabriel Bahadian, e do embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise, para afirmar que as embaixadas do Brasil "não podem ser de reflexão, mas de produção política, econômica e cultural". Foi interrompido por aplausos.

Lula arrancou risadas da platéia quando chamou o presidente da Fiat, o italiano Luca Di Montezemolo, de "Montezino", por três vezes. Os empresários acharam graça, e, no final do evento, não souberam dizer se fora ato falho de Lula ou retribuição ao italiano. Em discurso antes do presidente, Montezemolo chamou Lula de "Luna" por duas vezes.