Título: É preciso outra reforma do sistema, diz especialista
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

Embora o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirme que a reforma da Previdência Social já está feita e que o sistema previdenciário está caminhando para a estabilidade, especialistas afirmam que não há outra saída a não ser rever o sistema.

Segundo o economista, Raul Velloso, especialista em contas públicas, é fácil provar a necessidade de uma reforma. No ano passado, diz ele a conta do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foi de R$ 146 bilhões e a contribuição de R$ 108 bilhões - um rombo de R$ 38 bilhões nas contas públicas.

Do total de benefícios, R$ 49 bilhões foram para os aposentados rurais e urbanos que ganham até um salário mínimo, cuja contribuição foi muito pequena ou quase nenhuma, e R$ 97 bilhões para os beneficiários acima de um salário mínimo. "Dizer que isso não é um problema é uma brincadeira. Toda vez que o governo dá um aumento acima da inflação para o salário mínimo ele estica esse pedaço da conta de quem recebe um salário." Além disso, completa ele, há a questão da falta de idade mínima para aposentadoria.

Na avaliação de Velloso, há duas possíveis explicações para a opinião do ministro Guido Mantega, dada ao jornal Financial Times. Uma delas seria o desconhecimento do assunto - uma hipótese ruim, pois o ministro da Fazenda tem de saber sobre essas questões. Outra possibilidade é que Mantega estaria tentando entrar em sintonia com outras áreas do governo, cujo discurso é de que não há mais necessidade de uma nova reforma da Previdência.

Para o especialista, no entanto, é difícil imaginar que um governo que tem vivido uma crise política há mais de um ano vá fazer uma outra reforma (a do regime dos trabalhadores da iniciativa privada) nesta altura do campeonato. "O governo já gastou o gás na reforma dos servidores e vou dizer que teve conquistas muito importantes."

Segundo ele, o governo se esforçou no primeiro ano com a reforma da Previdência. "No final, ela foi mais branda que a original, mas não foi por falta de esforço e determinação do governo."