Título: Produtividade cresce apenas 0,98%
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2006, Economia & Negócios, p. B3

Mantido o atual ritmo de crescimento médio anual de 0,98%, o Brasil vai levar quase 400 anos para alcançar a mesma produtividade que os Estados Unidos têm hoje. Essa é uma das conclusões de um estudo inédito da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que comparou a evolução da produtividade da manufatura brasileira na última década com a de oito de seus principais concorrentes no mercado externo.

Pelo estudo, se o crescimento da nossa produtividade for similar ao da Índia (6,09% ao ano), o País alcançará os EUA em 41 anos. No ritmo chinês (10,1%), esse número cai à metade, para 20 anos.

"O crescimento da produtividade brasileira tem sido comprometido por fatores como juros e carga tributária em níveis muito superiores aos demais países e crédito em níveis muito inferiores aos mais competitivos", afirma José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Tecnologia e Competitividade da Fiesp, responsável pelo estudo. Para ele, esses fatores desestimulam o investimento, comprometendo os esforços para a competitividade do País.

No Brasil, o gasto do governo com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é 45% maior que a média dos nove países analisados pela Fiesp. A carga tributária é 46% superior e os juros reais médios, 144% maiores. Por outro lado, na média desses países o crédito ao setor privado com relação ao PIB é 77% superior ao verificado no Brasil. Além disso, os gastos com Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) são 50% maiores e a escolaridade média é 40% maior que a brasileira, apesar de os gastos do País em saúde e educação serem 15% superiores à média.

Os países incluídos no estudo são Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Coréia, México, Rússia e Estados Unidos. Os dados foram obtidos no Banco Mundial, na Organização Mundial do Trabalho (OIT) e confrontados com os sistemas de contas nacionais de cada país.

A Fiesp pesquisou a produtividade medida pelo valor adicionado da indústria em relação ao pessoal empregado. Em outras palavras, mediu a contribuição do setor para a geração de riqueza (PIB) de cada país.

"É diferente de medidas feitas a partir da produtividade física (produção dividida pelo pessoal empregado), que podem refletir estratégias de enxugamento de produtos e processos, mas não contribuem necessariamente para a agregação de valor sustentada da indústria", explica Roriz.

Segundo ele, vários estudos demonstram que a indústria é o principal motor do crescimento do PIB. Calcula-se que para cada 1 ponto porcentual do PIB a indústria cresce 1,8.

Depois de um período de forte declínio ocorrido entre 1982 e 1998, a indústria brasileira vem recuperando terreno. Hoje, ela já responde por 24,19% do PIB. Dos países selecionados pela Fiesp, só a China tem uma participação mais acentuada (39,34%) e a Rússia, com 24,5%.

A Coréia, no entanto, é o país que mais se aproxima da produtividade da indústria dos EUA. Chega a 50%. A produtividade brasileira corresponde a 23% da americana.

"Há uma forte correlação entre a taxa de crescimento da participação da indústria no PIB e a produtividade", diz o diretor da Fiesp. Nos últimos dez anos, conforme o estudo da entidade, a produtividade chinesa foi a que mais cresceu, a uma taxa média de 10,61% ao ano, seguida pela coreana (4,47%) e a russa (3,4%). Já o Brasil (0,98%), só ficou na frente da Argentina, com 0,87%, e do México, cuja produtividade decresceu 1,38% ao ano no período.

"Estamos passando por uma onda de crescimento mundial, e sabemos que esse processo é cíclico. Se a gente surfar nessa onda agora, vamos perder uma chance de ouro. O desafio do próximo presidente da República, seja ele quem for, é tirar das prateleiras todas as ações necessárias para acelerar o nosso processo de crescimento."

O diretor da Fiesp argumenta que a produtividade da indústria brasileira cresceu menos de um quarto da média dos países analisados (3,78% ao ano). No ano passado, a produtividade chinesa representou 40% da nossa, ante 17,6% em 1996. Segundo ele, o maior problema do País hoje são os gastos do governo. "Além de não sobrarem recursos para investimentos em infra-estrutura, o governo ainda tem que aumentar impostos para cobrir sua conta, diminuindo a capacidade de investir do setor privado."

Projeções da Fiesp indicam que o corte real (descontada a inflação) de 2% ao ano nos gastos implicaria a ampliação do investimento público de 2,7% do PIB, em 2005, para 6,6%,em 2010. Nesse mesmo período, o investimento privado aumentaria de 17,2% para 18,4%. Como efeito da redução do gasto público, o crédito ao setor privado passaria de 27,4% para 43,8% e a dívida pública cairia de 51% para 38% do PIB.

De acordo com a Fiesp, para que o País alcance um crescimento sustentado de 5% ao ano é necessário que a taxa de investimento salte dos atuais 19% para 25% do PIB. Seriam necessários investimentos da ordem de US$ 1 trilhão para atingir essa taxa até 2010.

Fabricantes de poliéster unem-se para competir

Os três principais fabricantes de fios de poliéster para indústria têxtil no Brasil resolveram unir forças para poder competir em pé de igualdade com as importações, principalmente de produtos chineses que entram ilegalmente no País por meio do subfaturamento e do descaminho. Os grupos Polyenka, Vicunha Têxtil e FIT, em parceira com a Petroquisa, braço petroquímico da Petrobrás, vão investir US$ 490 milhões na construção de uma fábrica no complexo industrial-portuário de Suape, no Estado de Pernambuco.

A unidade terá capacidade para produzir 280 mil toneladas de fios de Poliéster por ano, já a partir de meados de 2007. É o mesmo volume de produtos que hoje é importado pelo País, cujos preços chegam a ser 50% mais em conta que os nacionais. "Vamos instalar uma fábrica que tem a mesma economia de escala que as chinesas", afirma Jorg Dieter Albrecht, presidente da Polyenka. "Foi a única forma que encontramos para salvar a produção nacional, porque sozinhos não temos como competir."

Além da concorrência desleal das importações subfaturadas, a indústria nacional sofre com os efeitos do câmbio valorizado no Brasil e desvalorizado na China. Outro complicador é a baixa carga tributária e a alta economia de escala que os chineses têm.

A nova fábrica vai produzir também toda a cadeia de matérias primas usadas na produção de fios de poliéster, embalagens PET e outros produtos petroquímicos. O projeto todo deverá ser concluído em cinco anos. Até lá, as matérias-primas utilizadas na produção dos fios de Poliéster serão importadas.