Título: Satélite vai monitorar mata atlântica
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Vida&, p. A23

A exemplo do que já acontece com a Amazônia, sistema de vigilância acompanhará desmatamentos

A exemplo do que ocorre na Amazônia, a mata atlântica deverá ganhar, até o fim do ano, um sistema de monitoramento remoto, via satélite, para combate ao desmatamento. Essa é a principal proposta do novo Plano de Monitoramento e Controle da Mata Atlântica Brasileira, que será apresentado hoje pelo Ibama e pelo Ministério do Meio Ambiente na 8ª Conferência das Partes (COP 8) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, em Curitiba.

Inspirado no Plano de Combate ao Desmatamento na Amazônia, o programa utilizará imagens de satélite para identificar áreas de corte e ocupação ilegal da mata atlântica. A tecnologia está sendo desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com o Ibama. "Nosso objetivo é que o sistema esteja em operação até o fim do ano", disse ao Estado o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel.

O desafio tecnológico é ainda maior do que na Amazônia, por causa da extrema fragmentação do bioma. As áreas desmatadas são muito menores e estão espalhadas por pequenos trechos de floresta. Por isso, o processamento das imagens terá de ser muito mais refinado.

O desmatamento típico da mata atlântica, segundo Montiel, gira em torno de 3 hectares, mas a metodologia do Inpe usada na Amazônia só detecta desmatamentos maiores do que 6,25 hectares. "Queremos chegar a uma tecnologia que nos permita superar essas limitações." Ainda não está definida a periodicidade do monitoramento. "O ideal seria de 15 em 15 dias", disse Montiel. "A idéia é que possamos identificar ações de desmatamento em seu estágio inicial e mobilizar a fiscalização antes que se transformem em áreas maiores."

Para este ano, o programa já conta com R$ 5,5 milhões. Além do monitoramento remoto, o plano inclui cinco outras iniciativas, voltadas para fiscalização, educação ambiental e consolidação de unidades de conservação. Outro componente que deverá ser inaugurado ainda neste ano é o Sistema Compartilhado de Informações Ambientais (Siscom), uma base de dados integrada e atualizada em tempo real, com informações georreferenciadas sobre autorizações de desmate e planos de manejo. "A partir disso, poderemos monitorar via satélite se as exigências previstas no licenciamento estão sendo cumpridas", explica Montiel.

AMEAÇADA E DESPROTEGIDA

O anúncio chega como um alívio para defensores da mata atlântica na COP 8, onde as discussões - assim como as políticas ambientais do governo federal nos últimos anos - estão voltadas largamente para a Amazônia.

A mata atlântica é o bioma mais fragmentado, mais ameaçado e com maior concentração de biodiversidade do País. Está reduzida a 7,8% de sua cobertura original e abriga cerca de 60% e 45% das espécies de fauna e flora ameaçadas do País.

Ainda assim, apenas 25% dos 100 mil km2 remanescentes são protegidos por unidades de conservação - muito pouco para um bioma tão fragilizado, segundo a diretora de projetos da Fundação SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota. "Ainda há muitas áreas preservadas sem nenhuma proteção legal", disse.

Uma das regiões mais críticas está justamente no Paraná, onde as florestas de araucária (uma das muitas composições de mata atlântica) estão à beira da extinção, com menos de 1% de sua cobertura original preservada. Cinco unidades de conservação propostas recentemente pelo governo federal foram contestadas na Justiça, e apenas três já conseguiram ser criadas, na semana passada.

Ontem mesmo, organizações não-governamentais contestavam a emissão de licenças pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para desmatamento em áreas de araucária.