Título: Dirceu é apontado como idealizador do esquema
Autor: Eugênia Lopes, João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Nacional, p. A6

Parecer enfatiza que ex-ministro coordenava decisões sobre o mensalão; Roberto Jefferson teria cometido 3 crimes e Marcos Valério, 9

O relatório final da CPI dos Correios foi contundente quanto à participação do ex-ministro e ex-deputado José Dirceu no esquema do mensalão. "O ex-ministro José Dirceu desponta como o grande idealizador desse esquema de corrupção, destinado a garantir uma base de apoio ao governo na Câmara dos Deputados", concluiu o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR). Ele pediu o indiciamento do petista pelo Ministério Público pelo crime de corrupção ativa.

"O então ministro estava a par de todos os acontecimentos e coordenava as decisões, junto com a diretoria do PT. Isso fica evidente no depoimento da sócia do empresário Marcos Valério, Renilda Santiago, que declarou à CPI, no dia 25 de julho de 2005, que Valério tinha lhe dito que Dirceu sabia dos empréstimos", argumentou o relator.

Serraglio lembrou que o ex-ministro teve fundamental participação na indicação de dirigentes de fundos de pensão - como a de Arlindo Magno, ex-diretor-financeiro da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), patrocinadora do Prece.

O relator também sugeriu ao Ministério Público o indiciamento do autor das denúncias do mensalão, ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em três tipos de crime: eleitoral, contra a ordem pública e por corrupção passiva. Jefferson foi o primeiro parlamentar ligado ao esquema cassado pelo plenário da Câmara.

Já o empresário Marcos Valério incorreu em nove crimes, de acordo com o relatório final da comissão. A deputada Denise Frossard (PPS-RJ) comentou que Valério carregava "metade do Código Penal atrás de si": falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, corrupção ativa, supressão de documento, fraude processual, contra a ordem tributária, peculato e improbidade administrativa.

DELÚBIO

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, outra peça-chave do esquema - que teria ajudado Marcos Valério a montar o caixa 2 para financiamento do partido e de legendas aliadas -, teve seu indiciamento pedido por falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, crime eleitoral e peculato.

De acordo com o relatório de Serraglio, o ex-presidente do PT José Genoino terá de responder por três crimes: falsidade ideológica, corrupção ativa e crime eleitoral.

O secretário do Núcleo Estratégico do governo, Luiz Gushiken - que era titular da Secretaria-Geral de Comunicação do Governo na época do escândalo -, foi enquadrado pelo relator por envolvimento com o mensalão e com os fundos de pensão. Ele poderá responder por tráfico de influência e corrupção ativa. Seu ex-protegido e hoje desafeto Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, pode ser indiciado por falsidade ideológica, peculato e lavagem de dinheiro.

A diretora-financeira da agência SMPB, Simone Vasconcelos, que distribuía o dinheiro do valerioduto, poderá ser indiciada por lavagem e corrupção ativa. Rogério Tolentino, sócio de Valério, poderá ser indiciado por falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Cristiano Paz, outro sócio, também responderá por lavagem de dinheiro e corrupção ativa.

O ex-presidente do BB Cássio Casseb responderá por condescendência criminosa.

Kátia Rabelo, dona do Banco Rural, e Ricardo Guimarães, proprietário do BMG, serão indiciados por fraude na administração de sociedade por ações, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.