Título: Oposição quer emendar texto para incriminar Lula
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Nacional, p. A10

PSDB pedirá destaque de pontos do parecer para mostrar 'que presidente foi omisso e mentiu'

Vários parlamentares tucanos anunciaram ontem, após a leitura do relatório final da CPI dos Correios, sua intenção de fechar o cerco e cobrar com maior clareza a responsabilidade do presidente Luiz Inácio da Silva nos episódios analisados.

O líder do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio (AM), por exemplo, pretende pedir o destaque de alguns trechos para "deixar claro que o presidente foi omisso e mentiu quando afirmou que o mensalão não existiu". No entender do senador tucano, "aquele que sabia e que nega a existência do mensalão é por ele responsável e merece ser citado como alguém que sabia e que se omitiu". A democracia "exige transparência", prosseguiu Virgílio, "e não é dado ao governante o direito de iludir a população".

Outro que pretende reforçar no texto final as acusações contra Lula é o senador Álvaro Dias (PR), para quem o presidente "é o maior responsável pela corrupção". Para Dias, "ele deve ser indiciado não só por crime eleitoral, confessado na entrevista em Paris, mas pelo conjunto da obra de corrupção de seu governo". Seu plano é apresentar emenda ao texto do relator já na terça-feira. "Não há como isentar Lula. Ele é o maior responsável", afirmou o senador paranaense.

A entrevista na França a que ele se refere foi dada em julho do ano passado. Nela, ao comentar que o caixa 2 fazia parte dos costumes políticos do País, Lula declarou: "O que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito no Brasil sistematicamente".

O secretário-geral do PSDB, Eduardo Paes (RJ),acha consistente o modo como Serraglio incluiu no texto a ação do presidente - sem nenhuma acusação, mas mencionado como alguém ciente das operações, pois foi avisado pelo ex-deputado Roberto Jefferson e teria pedido providências ao então ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.

Paes achou "contundente" o documento lido por Osmar Serraglio. "Todo o esquema do mensalão foi detalhado e comprovado, desde a origem até o destino dos recursos do valerioduto". O relatório final mostra que o mensalão é "uma realidade" e "não se trata de caixa 2, mas de compra de apoio político" - o que, segundo Paes, contradiz todas as justificativas dos líderes do PT.

CORAGEM

Também participante da CPI, a deputada Denise Frossard (PPS-RJ) avisou que pretende pedir vista do relatório, "para entender um pouco mais" o trecho que fala das franquias, no qual "faltou aprofundar um pouco". Para a deputada, o trabalho de Serraglio "é um relatório técnico, de quem conhece e estudou os documentos. Um relatório de quem tem coragem". Outro que elogiou o texto foi o senador Gustavo Fruet (PSDB-PR). "Ele consolidou os fatos que são de conhecimento público, e fez isso direito", avaliou o tucano paranaense.

Na contramão do apoio geral dos tucanos aos dez meses de trabalho de Serraglio, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) mostrou-se indignado pela inclusão, entre os possíveis indiciados, do seu colega mineiro Eduardo Azeredo. "O relatório é uma palhaçada", acusou Paes de Barros. "Ele indicia Eduardo Azeredo por um crime eleitoral que já prescreveu. É para dar uma satisfação ao PT. Não tem nenhum valor. É tiro na água." Mas Paes de Barros mostra-se rigoroso quanto à citação do presidente Lula: "O presidente foi omisso, e omissão é crime. Portanto, tem de ser citado no relatório final com veemência", observou.

No PFL, um dos deputados que mais apareceram durante os trabalhos da comissão, ACM Neto, considerou que Serraglio "foi cuidadoso" ao tratar da participação do presidente da República. "Ele chegou ao que era possível e razoável. A CPI não investigou exaustivamente a participação do presidente Lula no episódio do mensalão. O relator foi cuidadoso para não ser acusado de politizar seu trabalho", afirmou o deputado baiano.