Título: EUA já receberam extratos de Maluf em Jersey
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Nacional, p. A10

Envio ao Brasil depende de aval do procurador da ilha, o que deve ocorrer nos próximos meses

Os extratos bancários mostrando as movimentações financeiras do ex-prefeito Paulo Maluf no paraíso fiscal de Jersey já estão com a Justiça americana. Depois de quatro anos de espera e de negociações diplomáticas, os dados sobre Maluf e suas contas na ilha do Canal da Mancha começam a ser liberados pelos juízes de Jersey, o que promete revelar a origem exata dos recursos e os beneficiários. O Brasil também deve receber os documentos relativos às movimentações financeiras do ex-prefeito nos próximos meses.

As quatro empresas relacionadas a Maluf que possuem contas em Jersey são a Durante Internacional, Kildare Finance, Macdoel Investment e Sun Diamond. Essas empresas e as movimentações do ex-prefeito estão sendo investigadas nos Estados Unidos pelo promotor de Justiça Adam Kaufman.

Ele também investiga o caso do Banestado, além das movimentações do publicitário Duda Mendonça.

Maluf, na semana passada, esgotou em Jersey todos os caminhos jurídicos para impedir o envio da documentação. Resta agora apenas um sinal verde do procurador-geral da ilha para que os extratos sejam mandados ao Brasil. No caso da promotoria de Nova Iorque, fontes na Europa revelaram ao Estado que a documentação de Maluf foi repassada ainda em caráter informal. Os americanos também teriam de aguardar a autorização do procurador de Jersey para iniciar o uso legal da documentação e inclusive um eventual indiciamento do ex-prefeito. Enquanto isso, podem começar a montar o mapa de onde saiu o dinheiro. Alguns dos documentos enviados são manuscritos por membros da família do ex-prefeito.

No final dos anos 90, Maluf transferiu seus recursos dos bancos em Genebra para a ilha no Canal da Mancha. O Banco UBS revelou ao Estado que a transferência ocorreu depois que a direção da entidade financeira pediu ao ex-prefeito provas da origem dos recursos.

Apesar da manobra, os ativos do ex-prefeito foram bloqueados em Jersey e, agora, poderão ser enviados ao Brasil. William Bailache, procurador de Jersey, já teria informado aos promotores brasileiros que existem indícios claros de que os recursos, de mais de US$ 110 milhões, seriam resultado de corrupção.

Para a Justiça brasileira, os documentos irão não apenas confirmar a existência do dinheiro de Maluf, mas também revelar qual teria sido a origem e eventuais beneficiários. Os promotores brasileiros já contam com documentos enviados pelos bancos suíços, mas como o dinheiro já não estava no país, ficaria difícil traçar sua rota.

Há dois meses, os advogados de Maluf tentaram bloquear o envio dos documentos relativos às empresas Durante Internacional, Kildare Finance, Macdoel Investment e Sun Diamond.

Mas a corte de Jersey decretou que não atenderia ao pedido dos advogados e, na época, alertou que os indícios de corrupção eram "fortes". Com esse obstáculo retirado, os advogados de Maluf tentaram ter acesso aos documentos, o que foi negado na semana passada pela justiça de Jersey. A corte entendeu que a ação dos advogados de Maluf visava apenas a atrasar o processo.