Título: Saída de ministros preocupa presidente
Autor: Paulo Moreira Leite, Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Nacional, p. A12

Lula teme ficar sem auxiliares que também entendam o jogo da política

Às vésperas da reforma ministerial, o governo começou a ficar preocupado com a debandada de ministros prevista para amanhã - prazo estabelecido pela Lei Eleitoral para a saída dos que serão candidatos neste ano. Depois de ouvir muitos conselhos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, que fique no cargo e já espalhou que gostaria de fazer o mesmo apelo a Ciro Gomes (Integração Nacional).

O pedido de Lula a Wagner provocou crise no PT da Bahia, que já lançou a candidatura do ministro e alega não ter outro nome forte para concorrer à sucessão do governador Paulo Souto (PFL). Wagner quer disputar a eleição e terá nova conversa com o presidente hoje.

Seus correligionários apostam que ele convencerá Lula das vantagens de sua saída. "Eu estou à disposição do presidente, mas talvez eu seja mais importante em outra caminhada."

Hoje, Lula se dedicará a acertar a reforma. Das 9h às 18h, terá reuniões com ministros-candidatos, como Wagner, Ciro, Alfredo Nascimento (Transportes), Hélio Costa (Comunicações), Saraiva Felipe (Saúde), José Alencar (Defesa) e Agnelo Queiroz (Esporte). O ex-presidente do PT Tarso Genro, cotado para retornar à Esplanada, também está na agenda.

Ciro anunciou que deixará o time para postular uma vaga de deputado federal, seguindo orientação do PSB. "Gostaria muito que Ciro ficasse, mas não posso interferir no seu futuro político: ele é do PSB e já foi candidato a presidente da República", observou Lula aos que o aconselharam a fazer um apelo ao ministro para que permaneça na equipe.

A preocupação de auxiliares palacianos tem motivo: depois do escândalo envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Lula perdeu seu último escudo no governo. Antes, caiu o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e Luiz Gushiken deixou a Secretaria de Comunicação de Governo para se refugiar no apagado Núcleo de Assuntos Estratégicos. Além disso, uma penca de antigos companheiros - como José Genoino, Sílvio Pereira e Delúbio Soares - foi defenestrada do PT.

Palocci comandava a economia, mas era político. Entendia o jogo do poder. Os homens do presidente temem agora que o governo acabe perdendo auxiliares de reconhecida capacidade política e não consiga encontrar substitutos à altura. Por isso querem evitar a sangria de ministros capazes de dar respostas nessa seara.

O argumento desses interlocutores é um só: 2006 será o mais difícil ano da gestão Lula, pois o presidente terá de travar duplo combate - pela reeleição e para responder às pressões da oposição. No Planalto, o comentário é que Lula deve reforçar a articulação política o mais rápido possível, se não quiser viver dias infernais na campanha. Seus colaboradores temem que, sem Wagner e sem Ciro, o governo fique entregue ao talento administrativo da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e à reconhecida cultura jurídica de Márcio Thomaz Bastos (Justiça). São pessoas de grande competência em suas áreas, mas sem poder de fogo para agir no jogo pesado da conjuntura política.