Título: Serra anuncia candidatura amanhã
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/03/2006, Nacional, p. A14

Renúncia para concorrer ao governo encerrará novela que começou em janeiro, com disputa do prefeito e Alckmin

O prefeito José Serra envia hoje à Câmara Municipal a sua renúncia à Prefeitura de São Paulo para ser o candidato do PSDB ao governo do Estado, como antecipou o Estado na edição de terça-feira. Mas Serra só falará formal e publicamente sobre a sua saída da Prefeitura amanhã, numa reunião do secretariado municipal convocada por ele especialmente para isso, em meio à qual transmitirá o cargo a seu vice Gilberto Kassab (PFL).

Serra não perderá um dia após deixar a Prefeitura: já no sábado ele começará a sua campanha para o governo estadual. A saída do prefeito encerra uma novela que começou em janeiro, quando o prefeito e o governador Geraldo Alckmin foram listados como pré-candidatos tucanos à Presidência e iniciaram uma disputa surda, em que Serra nunca se declarou candidato, a não ser às vésperas da decisão da cúpula tucana, que optou por Alckmin.

A saída de Serra é mais uma vitória de Alckmin, que pretende montar, nos principais Estados, palanques fortes para apoiarem a sua candidatura presidencial, na disputa contra o candidato do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Terça-feira o governador Aécio Neves (MG), que antes planejava disputar o Senado, acabou por anunciar que concorrerá à reeleição, depois de forte pressão do PSDB, partidos aliados e dos meios empresariais de Minas. Agora, Alckmin garantiu palanques fortes nos dois Estados com maior eleitorado.

Em São Paulo, Serra é, disparado, o candidato com maior potencial de votos na disputa do governo e o único tucano que hoje venceria (aliás, com facilidade) os dois principais candidatos do PT no Estado. Pesquisa Datafolha divulgada no dia 20 de março mostrou que Serra venceria a ex-prefeita Marta Suplicy por 50% a 14%, alcançando 58% dos votos válidos; e ganharia do senador Aloísio Mercadante por 58% a 12%, conquistando 65% dos votos válidos. Na pesquisa, os outros pré-candidatos tucanos a governador não passaram dos 9%, num distante quarto lugar.

Auxiliares de Serra informaram ontem que ele até poderá encaminhar a renúncia à Câmara Municipal de São Paulo hoje, mas se o fizer será com data de amanhã, 31 de março, último dia para desincompatibilização, segundo a lei. O advogado Ricardo Penteado, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral, explicou que a renúncia tem na data expressa na comunicação escrita e, para valer, basta o protocolo da casa legislativa devida (no caso, a Câmara Municipal).

DISPUTA

O vereador tucano José Aníbal, que obteve a maior votação em São Paulo, em 2004, é o único pré-candidato do PSDB que ainda não desistiu da postulação para abrir caminho à candidatura de Serra. Ele continua afirmando que vai enfrentar Serra na convenção partidária de junho, na qual o candidato tucano será homologado.

Suas chances, no entanto, são remotas, uma vez que a candidatura de Serra interessa também a Alckmin. Enfrentá-lo, no caso, significará desafiar o prefeito e o governador juntos. Os outros pré-candidatos - o deputado Alberto Goldman, o ex-ministro Paulo Renato, o secretário da Prefeitura Aloysio Nunes Ferreira e o secretário estadual Emanuel Fernandes - desistiram por Serra.

A última incógnita dos tucanos para outubro é o candidato ao Senado, que vai disputar contra o atual senador Eduardo Suplicy (PT). Há negociações para fazer do ex-governador Orestes Quércia, com longa folha de contencioso com o PSDB, este candidato.