Título: Eleição não pode adiar negociações, diz Supachai
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Economia & Negócios, p. B12

O chefe da principal agência da Organização das Nações Unidas para o Comércio advertiu o governo brasileiro para que não use as eleições presidenciais como desculpa para não poder flexibilizar sua posição quanto às negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).

As eleições brasileiras ocorrerão num momento crítico das negociações internacionais, que terão de estar concluídas até o final do ano.

"Ter eleições nesse momento de fato é algo complicado. Mas o governo não pode usar isso como desculpa", afirmou Supachai Panitchpakdi, diretor da Conferência da Organização das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad).

Segundo ele, a conclusão das negociações deve ser aceita por todos os partidos brasileiros.

"Tenho visto este compromisso no Brasil, por enquanto", disse o tailandês, que até o ano passado ocupou o cargo de diretor da Organização Mundial do Comércio.

Supachai se reuniu com o presidente Lula e com o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, para tratar de temas comerciais, nas últimas semanas.

Na sede da Organização Mundial do Comércio em Genebra, os principais negociadores sabem que o primeiro semestre será crucial diante das eleições na segunda metade do ano.

O próprio diretor-geral da entidade máxima do comércio, Pascal Lamy, admitiu há dias que o ideal seria uma aceleração das negociações até meados do ano para que o processo possa avançar o máximo possível antes das eleições.

EUA TAMBÉM Além das eleições brasileiras, o Congresso americano também passará por um período eleitoral.

"Dois dos três principais atores nas negociações passarão por um período político importante", comentou um diplomata europeu.

Já Peter Mandelson, comissário de Comércio da Europa, que está sendo pressionado a fazer concessões no setor agrícola, nega que a União Européia tenha de dar sinais de abertura antes do próximo semestre por causa das eleições nos Estados Unidos e Brasil.

Para analistas, o problema no Brasil não é exatamente se o Partido dos Trabalhadores ou o Partido da Social-Democracia Brasileira tomariam uma ou outra posição em relação às negociações comerciais.

O temor é que os setores industriais que terão de ceder e aceitar cortes de tarifas possam negociar com o governo algum tipo de apoio, caso o setor não seja afetado nas negociações na Organização Mundial do Comércio.