Título: Indústria precisa ceder, diz Lamy
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Economia & Negócios, p. B11

Para diretor-geral da OMC, empresariado brasileiro é competitivo e pode ajudar a superar impasse

O diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Pascal Lamy, disse ontem que a indústria brasileira hoje é mais competitiva e precisará ceder para que a Rodada Doha, iniciada em 2001, possa sair do impasse. Para Lamy, o Brasil está "mais na ofensiva do que na defensiva na discussão das regras mundiais para tarifas industriais, tarifas e subsídios agrícolas". Esse é o tripé onde se concentram as discussões mundiais para a conclusão da Rodada Doha, que estipulará as regras para o comércio global.

Segundo Lamy, a posição do Brasil é importante porque "a discussão agora não é mais quando, mas quanto se pretende ceder para se chegar a um acordo geral de tarifas até o próximo dia 30". "E o que se tem na mesa hoje é insuficiente para fechar o acordo."

Em encontro com empresários brasileiros, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Lamy deu a entender que União Européia (UE) e Estados Unidos deverão fazer novos movimentos para a liberalização na área agrícola. Se, de fato, isso acontecer, a indústria brasileira terá de recuar de sua posição atual, que é a de aceitar, no máximo, um corte de 50% nas tarifas industriais , mas somente se a UE e os EUA ampliarem suas ofertas agrícolas.

Lamy ouviu do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e de empresários presentes ao encontro que a indústria brasileira enfrenta fatores que limitam sua competitividade (como juros, câmbio e carga tributária), mas ainda assim insistiu na percepção de que se trata de uma indústria hoje muito mais competitiva. "Os grandes atores (UE, EUA e G-20) têm de se mover (em relação às propostas de liberalização), o que significa que precisamos de uma redução real nas tarifas de bens industriais", insistiu.

O francês Lamy aproveitou o encontro para lembrar que o calendário, que prevê a implantação a partir de 2013 das novas regras de comércio exterior, precisa ser seguido à risca. "A rodada de negociações precisa ser encerrada este ano - o prazo é o dia 30 de abril - para que 2007 seja dedicado às ratificações pelos países membros da OMC e 2008 como o primeiro ano de implantação, a partir do qual decorrerão 5 anos até a completa implantação, em 2013."

Ele se mostrou esperançoso com as negociações. "É preciso chegar rapidamente a um acordo, que espero possa começar a ser costurado hoje (ontem) e amanhã (hoje) no Rio", disse, referindo-se aos encontros do Brasil com representantes comerciais dos EUA e da UE.

Na avaliação de Lamy, "os EUA são mais ofensivos nas áreas industriais e de serviços e mais defensivos em agricultura, assim como a UE, que se mostra menos defensiva que os EUA em relação a serviços". "No caso do G-20, são mais ofensivos em agricultura e menos em tarifas industriais."