Título: Peso dos bancos no PIB sobe de 6,6% para 8,1%
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Economia & Negócios, p. B8

Altos lucros fizeram o setor superar a construção e o comércio e emparelhar com a pecuária

O Produto Interno Bruto (PIB) dos bancos superou no ano passado toda a riqueza produzida pelo comércio e pela construção civil e emparelhou com a agropecuária. O valor nominal das instituições financeiras cresceu 34%, para R$ 140 bilhões entre 2004 e 2005. Na contramão, o PIB da agropecuária encolheu de R$ 159,7 bilhões para R$ 145 bilhões. O principal motivo do avanço do setor financeiro foi a expansão do crédito, explicam analistas de mercado.

O peso das instituições financeiras no PIB passou de 6,6% para 8,1%. Para se ter idéia do salto, um ponto porcentual do valor adicionado ao PIB equivale a R$ 17,3 bilhões. O peso da agropecuária ficou em 8,4%. Já a construção civil ficou nos R$ 126,6 bilhões de renda, equivalente a 7,3% do PIB, e o comércio, nos R$ 130,8 bilhões, 7,6% do total.

Os dados são de levantamento feito pelo IBGE a pedido do Estado, com base em informações do PIB desde 1995. Antes disso, a comparação fica prejudicada por conta da inflação elevada dos anos anteriores.

Eles mostram que o peso relativo das instituições financeiras em 2005 foi o maior no período e ficou próximo dos 8% registrados há 11 anos. Em 2000, a fatia dos bancos chegou a 5,4%, abaixo do comércio, da construção civil e da agropecuária.

A gerente de Contas Trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, comentou que a atividade que "puxou para cima" os resultados do setor financeiro foram as operações de crédito. Segundo ela, as atividades de crédito cresceram e os custos não aumentaram na mesma proporção, o que favoreceu o crescimento da renda do setor. O segmento das instituições financeiras inclui, além dos bancos, outras atividades, de menor porte relativo, como de seguradoras.

O presidente da Economática, Fernando Exel, contou que o desempenho dos bancos foi mais forte no ano passado basicamente por causa do aumento do crédito. "Não só aumentou a massa de crédito, como o crescimento foi mais concentrado nas pessoas físicas, em que os juros são maiores", afirmou. Exel comentou, ainda, que o número de transações financeiras cresceu, o que aumenta a receita com serviços, e cita os ganhos com a administração de fundos, atividade que cresce.

LUCROS RECORDES Estudo recente da Economática mostra que os lucros dos bancos voltaram a bater recorde em 2005. O resultado líquido dos cinco maiores - Banespa, Itaú, Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco - somou R$ 18,4 bilhões, 35% acima dos R$ 13,646 bilhões (valor atualizado até dezembro de 2005).

Parte dos ganhos dos bancos decorre da aplicação em títulos públicos. Uma parcela destes títulos é vinculada à taxa Selic, que tem estado alta nos últimos anos, explica o professor do Ibmec/RJ Fábio dos Santos Fonseca. Ele concorda que o crédito aumentou na economia, mas explica que os juros tiveram papel importante.

O economista-chefe da Federação Brasileira da Associação de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, pondera que avaliação do peso do setor dentro do PIB é imprecisa e afirma que, com certeza, não chega a 8%. Segundo ele, o valor equivaleria a metade disso. Ele reconhece, contudo, que houve crescimento dos serviços financeiros executados ano passado, cerca de 20%, e também expansão da carteira de crédito.