Título: Campeã da lista tem forte influência alemã
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2006, Nacional, p. A5

O campeão brasileiro de responsabilidade fiscal e social é um pequeno município de 3.800 habitantes que mais parece um enclave germânico no Rio Grande do Sul. Em São José do Hortêncio não há desemprego ou pobreza visível, nem crianças fora da escola. As ruas estão sempre limpas e os jardins, floridos. Alemão é a língua corrente tanto nos poucos bares da cidade quanto no gabinete do prefeito.

Os números relativos do município gaúcho são de dar inveja a muitos administradores. A prefeitura não tem dívidas, conseguiu economizar oito meses de receita em caixa e gasta apenas 25,8% da arrecadação com o funcionalismo. Como costuma pagar tudo à vista, só investe quando já tem dinheiro disponível para um novo projeto. O orçamento deste ano chegará a R$ 6,3 milhões.

A afamada disciplina germânica dos moradores de São José do Hortêncio é citada como uma das causas do sucesso da administração local. Ela está presente também em grande parte dos outros 38 municípios gaúchos que estão entre os 100 melhores do País no Índice de Responsabilidade Fiscal, de Gestão e Social.

A maioria dos municípios gaúchos que aparece nas 100 melhores posições do ranking está distribuída em dois eixos do Estado. Um deles está nos vales dos rios Caí e Taquari, com municípios como Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, São Vendelino e Sapiranga. Outro está na serra e tem municípios como Fagundes Varela, Veranópolis e Farroupilha, de colonização italiana.

Um dos primeiros a estabelecer a relação entre os descendentes das grandes correntes de imigrantes estabelecidas no Estado e bons resultados de administrações públicas é o professor de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Luis Roque Klering, um dos coordenadores da pesquisa. "O descendente de imigrantes alemães é conhecido por ser disciplinado, ter o sentido de obediência e de submissão às ordens fiscais", analisa.

Mas também há outras características comuns à maioria dos municípios gaúchos citados na lista: quase todos são pequenos e têm comunidades homogêneas economicamente, o que torna as demandas menores e a administração mais fácil; a maioria se emancipou há pouco tempo, o que abriu caminho para gestões modernas e sem vícios. E mais: os prefeitos usam os recursos da tecnologia, como softwares, para controlar as contas públicas.

Em seu terceiro mandato, o prefeito de São José do Hortêncio, Anibaldo Petry (PMDB), admite que a cultura alemã, de quase 90% da população, influencia porque os moradores, com tradição comunitária, participam das reuniões que definem prioridades orçamentárias e preferem contas em dia a obras faraônicas. A Câmara Municipal, que tem 9 vereadores e só um assessor, também colabora, ficando com menos de 2% do orçamento.

A população pode não estar familiarizada com exigências da responsabilidade fiscal. Mas sabe que as contas do município vão bem e está satisfeita com os serviços que recebe. "Para mim está ótimo", avalia Laurene Bender, dona de uma padaria, ao ver os filhos embarcando em um dos ônibus que transportam todos os estudantes da cidade às salas de aula.