Título: Mantega recua e TJLP cai para 8,15%
Autor: Lu Aiko Otta, Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

Decisão foi pautada pela cautela, já que ministro, antes de assumir a Fazenda, defendia queda da taxa para 7%

O Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) em 8,15% ao ano em sua reunião de ontem, a primeira presidida pelo novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Foi um corte de 0,85 ponto porcentual, em uma decisão pautada pela cautela, diante da tensão causada pela troca de comando na Fazenda. A taxa de 8,15% vai vigorar durante o segundo trimestre do ano.

Esperava-se confronto entre Mantega, defensor de cortes mais drásticos na taxa de juros, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, mais conservador. Mas, segundo o diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, a decisão foi unânime. "Não houve discussão no CMN", disse Darcy.

Um integrante da área econômica informou que a nova taxa foi negociada antes da reunião, em conversa reservada. Mantega queria um corte de um ponto porcentual e Meirelles, uma redução mais modesta, de 0,5 ou 0,75 ponto. Os dois passaram, então, a negociar "feito dois mascates", até que chegaram a 0,85 ponto.

A discussão, porém, foi tranqüila, segundo a fonte. O principal argumento de Mantega foi que a redução da taxa de juros básica, a Selic, causa efeitos positivos no consumo. Mas, para aumentar os investimentos, é preciso baixar mais o custo do crédito ao setor produtivo, cortando a TJLP. A taxa é um importante sinalizador para o nível de investimentos no País, pois corrige os empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Outra fonte do governo disse ao Estado que a decisão foi técnica e não corresponde a uma análise dos vencedores: se os desenvolvimentistas (Mantega), ou os monetaristas (Meirelles). "Não há clima de Fla-Flu!", disse a fonte. A nova TJLP, segundo essa fonte, é resultado de uma avaliação objetiva dos parâmetros utilizados para definir a taxa: a meta de inflação e o prêmio de risco país.

"Trata-se de uma decisão que não pode ser interpretada como uma avaliação da nova composição do CMN", disse a mesma fonte, referindo-se à saída de Antonio Palocci e a posse de Mantega na Fazenda. "A decisão não é um embate por meio do qual se possa saber se prevalece a linha ortodoxa ou desenvolvimentista nos próximos nove meses de governo Lula."

Ainda segundo essa fonte, a decisão do CMN deve ser analisada no contexto do gradualismo seguido pelo BC na redução da Selic, hoje em 16,5%. Assim, apesar de haver um critério para a definição da TJLP, existe também uma forma de moderar o processo de queda ou de aceleração da taxa.

A decisão de ontem, que foi um meio-termo entre o que queriam Meirelles e Mantega, foi tomada também para dar um sinal de que o novo ministro defenderá os interesses da Pasta, que não são necessariamente os do presidente do BNDES.

Na semana passada, ainda presidente do banco, Mantega defendeu um corte de dois pontos na TJLP. Mas, no dia de sua posse, indicou que o corte seria menor ao dizer que, quando presidente do BNDES, ele "dava palpite e pressionava". Em dezembro, quando foi fixada a TJLP no período de janeiro a março, Mantega envolveu-se em um debate público com o então secretário do Tesouro, Joaquim Levy, por defender cortes mais drásticos na taxa.

Ao anunciar a nova TJLP, Sérgio Darcy não divulgou os indicadores considerados na definição. Disse apenas que a decisão foi tomada pelo "conjunto da obra". Considerando-se que a meta de inflação é de 4,5% e o prêmio de risco considerado ficou na casa de 3,65% - taxa, entretanto, que está acima da verificada hoje, segundo as agências de classificação de risco.