Título: Astronauta começa suas experiências amanhã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Vida&, p. A38

Chegada da nave à Estação Espacial estava prevista para 1h19 de hoje

O astronauta Marcos Pontes dará início aos experimentos na Estação Espacial Internacional (ISS) amanhã, caso a acoplagem da nave Soyuz, onde estava, tenha acontecido conforme o previsto, nesta madrugada.

Pelo menos três das oito experiências serão feitas amanhã, as duas de cunho educacional, enviadas por estudantes paulistas, e uma enviada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A primeira toma apenas um dia: cromatografia da clorofila, que estuda as moléculas que formam o verde nas plantas. Num papel especial, a gravidade separa as cores e forma faixas, como num arco-íris. O brasileiro checa o que acontece em um ambiente sem gravidade.

A outra pesquisa educacional é a germinação do feijão - experiência ainda mais popular entre crianças do que a da clorofila. Enquanto Pontes planta lá, num dispositivo especial, plantam aqui os estudantes de São José dos Campos (SP) num algodãozinho com água.

O teste será conduzido até o dia 7, véspera do retorno do astronauta. No fim, o feijão espacial e o terráqueo serão comparados na sala de aula. Será uma aula de biologia para poucos.

A terceira experiência, marcada para começar amanhã, vem de instituição de pesquisa reconhecida no País. Ela visa a estudar o desenvolvimento de sementes de uma árvore do cerrado. O objetivo declarado é apoiar estratégias de conservação - muito nobre, já que o cerrado é um dos biomas mais ameaçados do País. A dúvida que fica é como será possível usar o conhecimento na prática terráquea.

O cronograma das demais experiências será divulgado hoje, após o primeiro contato do astronauta com a Terra, promete a Agência Espacial Brasileira (AEB).

CHEGADA

A previsão das agências espaciais russa e americana, que gerenciam a ISS, era que a Soyuz TMA-8 se ligasse à estação à 1h19 (horário de Brasília).

Pelo menos uma hora a mais é necessária para que a pressão da nave e da estação seja equilibrada. Só depois os três integrantes - Pontes, mais o russo Pavel Vinogradov e o americano Jeffrey Williams - deixariam o ambiente pouco confortável e frio da nave.

"Durante os dois dias do vôo de ida, os cosmonautas podem experimentar sensações desagradáveis e sentir um pouco de frio, mas há comida de sobra", afirma Alexander Agureyev, diretor do Instituto de Biologia Espacial da Rússia. Comida fria, diga-se, pois não há como aquecê-la. "É uma comida especial, que não é aquecida", explica o técnico. O cardápio incluía frango, presunto, queijo, sucos, chocolate, cereais, ameixas e outras frutas secas.

Os primeiros dias são difíceis para o corpo. O astronauta sente mal-estar, uma sensação de enjôo, enquanto se adapta à ausência de gravidade.

A maioria das pessoas acaba perdendo o apetite nessas condições. Mas a despensa da Soyuz contém rações suficientes para cada um comer até quatro vezes por dia, se quiser.

"Muitos não comem nada porque é difícil se adaptar à baixa gravidade", comentou o cosmonauta Gennadi Padalka, que acompanha o vôo da Soyuz a partir do centro de controle da missão, na cidade de Koroliov, a nordeste de Moscou.

PRIMEIROS MOMENTOS

"Pontes está se adaptando às condições do vôo orbital e o seu estado geral é satisfatório", garantiu Agureyev. Os médicos recomendaram ao brasileiro o mínimo de movimentação possível nestes momentos iniciais, especialmente movimentos bruscos de cabeça. "O objetivo é evitar ao máximo forçar o sistema circulatório", explicou.

Não que Pontes pudesse pensar em fazer algo a mais. O espaço na nave é apertado. Os três tripulantes puderam tirar os escafandros, ou trajes espaciais, antes de chegar à estação, mas só poderiam se movimentar em suas poltronas.