Título: Alckmin aposta na TV para crescer
Autor: Paulo Moreira Leite
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2006, Nacional, p. A6

O PSDB anda aflito com as intenções de voto do ex-governador Geraldo Alckmin, mas o próprio pré-candidato tucano não vê nada de errado na campanha. "Eleição é televisão, e neste momento o único candidato que aparece no vídeo é o presidente Lula", afirma Alckmin, que teve conversas demoradas sobre o assunto durante o fim-de-semana. "Vamos subir de verdade a partir de junho."

Hoje dono de metade das intenções de voto de Lula, Alckmin possui uma estratégia que pede paciência aos aliados e aposta no desgaste lento mas contínuo do adversário. Em maio, durante a propaganda partidária destinada aos deputados estaduais do PSDB, Alckmin fará aparições de 30 segundos. Em junho, o PSDB apresenta o programa nacional, em que o ex-governador será personagem principal. Em agosto, começa o horário eleitoral.

"Hoje, a eleição só preocupa políticos e jornalistas", afirma. Para ilustrar o que diz, o ex-governador tem, como sempre, uma coleção de anedotas. A mais divertida envolve um episódio que lhe foi contado por Fernando Henrique Cardoso. Em viagem pela Espanha, o ex-presidente foi abordado por uma brasileira, que pediu seu autógrafo. "De repente, ela perguntou: 'O senhor trabalha na Globo?'"

Em posição de relativo equilíbrio em muitas regiões do país, Alckmin enfrenta um inferno eleitoral no Nordeste, onde Lula lidera por 60% a 10%. "Basta examinar a situação em cada Estado para ver que essa diferença não é real", diz ele, que tem feito viagens regulares à região. "Temos apoio de vários candidatos fortes aos governos estaduais, com chances de ganhar a eleição. É óbvio que isso vai se refletir a nosso favor."

Alckmin cultiva três convicções sobre a disputa presidencial. A primeira é que será uma campanha polarizada entre dois concorrentes. A segunda, que ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva serão esses adversários. A terceira é que pode chegar atrás de Lula no primeiro turno, mas em condições de virar o jogo no segundo. "Temos boa perspectiva de vencer", diz. Ele dispõe de pesquisas que informam que é segundo nome da maioria dos eleitores que hoje votariam em Garotinho.

O pré-candidato define Lula como um adversário "forte" em função da economia favorável, "que poderia ser melhor, pois a situação internacional ajuda". Ele sabe que o Bolsa-Família alavanca o presidente, mas vê limites no chamado voto-benefício. "A população associa o benefício ao chefe local, que tem muito peso na hora de definir o voto no interior. Muitos desses chefes políticos estarão do nosso lado." O ex-governador alega que o Bolsa-Família inclui muita gente, mas exclui muita gente também. "O cidadão que ganha dois salários mínimos e leva uma vida sacrificada está fora. O que ele pensa disso?"

Para quem acredita que Lula terá sucesso numa campanha com a linha "pobre contra rico", Alckmin alega: "Como diz um amigo meu, o único dono de banco que me apóia é o Antonio Ermírio de Moraes, que, por sinal, é um homem da produção. Os outros estão com o adversário." Ele atribui essa preferência aos juros, que o governo manteve em taxas altas "sem necessidade."

Escalado como candidato presidencial pela cúpula do PSDB numa operação em que deslocou o ex-prefeito José Serra, que possuía um cesto bem maior de intenções de voto, Alckmin tem demonstrado competência para cativar platéias, conforme políticos que acompanham suas viagens.

Mas tucanos de alta plumagem observam que até agora o ex-governador não se definiu sobre questões políticas essenciais, o que pode prejudicar esforços para crescer em larga escala, com ou sem tempo na TV. Por esse ponto de vista, a presença de visões conflitantes na área econômica atrapalha a luta por votos numa área fundamental - o bolso do eleitor.

Também a falta de uma articulação política sólida, desejada para a atual fase da campanha, produz situações difíceis. No Rio de Janeiro, PFL e PSDB montam palanques separados para disputar o governo estadual, o que só beneficia os adversários.