Título: Falta de kits faz com que casos suspeitos virem positivos
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Vida&, p. A34

Se procedimento for adotado, casos em SP podem dobrar; já foram infectadas 5.433 pessoas neste ano

Milhares de exames de dengue deixam de ser feitos em todo o País por falta de kits de teste da doença. O problema, que pode prejudicar o controle da dengue, ocorre praticamente em todos os Estados, mas com maior gravidade em São Paulo, onde em muitas cidades os casos suspeitos começam a ser tratados como se fossem positivos.

O Ministério da Saúde, responsável pelo fornecimento dos kits, admite que o desabastecimento ocorre há pelo menos uma semana. Segundo o ministério, a falta se dá por atraso na entrega dos testes pela Fiocruz, que produz os materiais. A instituição diz que ocorreram "problemas de conformidade na fabricação dos kits, que estão sendo corrigidos".

Em São Paulo, pelo menos 4 mil testes estão encalhados nos laboratórios do Instituto Adolfo Lutz à espera de diagnóstico. Em São José do Rio Preto, a Secretaria Municipal de Saúde deverá confirmar nos próximos dias 1,7 mil novos casos, que na verdade são suspeitas.

Se o procedimento for adotado em todo o Estado, São Paulo praticamente dobrará o número de doentes, que hoje é de 5.433. Em todo o ano passado, foram 4.173 infectados. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, a falta de kits ocorre há cerca de duas semanas.

Além da região de Rio Preto, a Baixada Santista sente a falta de 1.050 exames. A situação deverá piorar em Ribeirão Preto, onde há kits para apenas mais uma semana. Em Campinas, o estoque é "crítico".

Segundo a secretaria, o Estado sente a falta de pelo menos 63 kits - cada kit suporta 96 exames sorológicos. Em fevereiro, foram pedidos 30 kits, mas o governo enviou 10. Em março, a secretaria não recebeu nenhum dos 43 pedidos. Por isso, foi feita uma compra de emergência de 50 kits por R$ 65 mil.

O ministério afirma que a falta de kits prejudica o controle da dengue porque eles não são usados só para diagnosticar a doença. Os testes são feitos depois que a pessoa fica doente e é por eles que os epidemiologistas identificam quais tipos de vírus existem em cada região. Por isso, será feita uma compra emergencial de 300 kits, importados da Austrália, que serão distribuídos nos próximos dias.

O problema aparece num momento em que a doença aumenta no Estado. Apenas na cidade de São Paulo foram registrados, de janeiro a março, 40 casos - mais do que os 37 notificados em todo o ano de 2005.

HEMORRÁGICA

Em Ribeirão Preto foram confirmados mais dois casos de dengue hemorrágica. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, as duas vítimas foram curadas, assim como os outros cinco casos registrados neste ano.

A cidade vive sua terceira epidemia da doença desde 1990: tem 1.238 casos de dengue clássico e 7 hemorrágicos. Ainda existem 1.373 casos suspeitos, aguardando os resultados de exames laboratoriais, sendo que 4 deles podem ser hemorrágicos.