Título: Tese do boicote divide oposição venezuelana
Autor: Juan Forero
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Internacional, p. A29

Julio Borges é um político incomum na fragmentada oposição da Venezuela. Ele se candidatou. Recentemente, enquanto grande parte da oposição planejava o boicote à eleição presidencial deste ano, Borges fazia uma viagem de campanha de dois dias, apertando mãos e beijando rostos na cidade de Quibor, tentando, contra todas as probabilidades, roubar eleitores do presidente Hugo Chávez.

"Passamos sete anos tentando tirar Chávez de Miraflores ", disse Borges, referindo-se ao palácio presidencial. "O que temos de fazer é tirar Chávez do coração das pessoas."

Ele é o primeiro a admitir que sua tarefa é solitária. Chávez continua imensamente popular, com um índice de aprovação de 55% nas pesquisas, por ter canalizado para os pobres bilhões de dólares das receitas do petróleo. E, o que é talvez o mais importante, ele estampou sua marca em quase todos os aspectos da vida e em todas as instituições que detêm o verdadeiro poder.

Borges argumenta que boicotes eleitorais só aumentam o poder de Chávez e, na prática, já transformaram a Venezuela num Estado monopartidário.

Já os defensores do boicote afirmam que Chávez minou as instituições da democracia e por isso procuram tirar sua legitimidade desvalorizando as eleições.

Eles denunciam que o presidente dominou a Suprema Corte e o Conselho Eleitoral de cinco membros, registrou eleitores irregularmente e controla o modo como os venezuelanos votam - acusações que o governo nega.

Muitos defensores do boicote pertencem à ala da oposição que fracassou na tentativa de derrubar Chávez com um golpe e uma greve de dois meses do setor petrolífero em 2002 e um referendo sobre sua permanência no poder em 2004. Em dezembro, eles organizaram um boicote de cinco partidos à eleição para a Assembléia Nacional e acabaram perdendo toda a representação no governo.

Alguns líderes opositores declararam que o boicote foi um sucesso, pois 75% dos eleitores não votaram, mostrando sua insatisfação com o sistema eleitoral estabelecido por Chávez.

Um editor de jornal, Teoro Petkoff, e o governador do Estado de Zulia, Manuel Rosales, são considerados possíveis candidatos presidenciais, mas até agora Borges é o único que declarou a candidatura. Ele diz que seu maior desafio é unir uma oposição desiludida, cujas numerosas fraturas têm sido uma das maiores vantagens de Chávez. "A missão mais difícil é superar os ruídos de nossa própria oposição", afirmou Borges, um advogado de 36 anos de Caracas.