Título: Escândalo de corrupção se amplia nos EUA
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Internacional, p. A29

Um segundo assessor de ex-líder governista na Câmara confessa que tramou com lobista

O escândalo de corrupção que levou à condenação do ex-superlobista republicano Jack Abramoff a uma pena de quase seis anos de cadeia, no início da semana, em Miami, ampliou-se ontem. O caso chegou mais perto do deputado texano Tom DeLay, ex-líder da bancada governista na Câmara dos Representantes e que já responde por crimes eleitorais em seu Estado.

Tony Rudy, que foi vice-chefe de gabinete de DeLay entre 1995 e 2000, antes de tornar-se sócio de Abramoff, confessou ontem na Justiça Federal que conspirou com o lobista para corromper congressistas. Rudy reconheceu ter aceito US$ 86 mil e inúmeros outros presentes de Abramoff quando estava no gabinete de DeLay. Em troca, pediu a vários congressistas que votassem contra um projeto de lei que legalizaria o cassino eletrônico via internet. A lei contrariava interesses das tribos de índios que operam cassinos em reservas indígenas, que eram clientes de Abramoff.

"O público americano perde quando funcionários e lobistas conspiram para traficar influência de modo tão corrupto e descarado", disse a promotora Alice Fisher, que comanda o processo contra Abramoff. A pena dele pode chegar a dez anos pois não foi sentenciado no processo de Washington. Como ele, Rudy aceitou cooperar com a Justiça e deverá ser condenado a dois ou três anos, em lugar do máximo de cinco previstos caso fosse a júri popular.

De imediato, a confissão complicou a situação do deputado republicano Bob Ney, de Ohio. De acordo com documentos divulgados ontem pela promotoria, Ney "concordou em tomar decisões favoráveis e ajudar clientes de Abramoff e Rudy". Isso dá mais munição aos democratas para tentar recuperar o controle da Câmara, nas eleições legislativas de novembro.

A pergunta que está no ar é a extensão do envolvimento do próprio DeLay, que era pessoalmente próximo do superlobista republicano, no esquema. Tony Rudy é o segundo ex-auxiliar de DeLay a reconhecer culpa no caso. Em novembro, o ex-secretário de imprensa Michael Scanlon, que também deixou o cargo para trabalhar para o lobista, confessou ter conspirado para corromper congressistas. Ele ainda não foi sentenciado.