Título: Fórum exige que Lula 'acalme o povo'
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2006, Nacional, p. A8

Mais de 300 movimentos sociais e organizações não-governamentais reunidos no 2º Fórum Social Brasileiro exigiram ontem, no encerramento do evento, no Recife, um compromisso do presidente Lula com o povo brasileiro, nos mesmos moldes da carta em que, em 2002, o presidente garantiu que não daria calote na dívida pública - o que acalmou o sistema financeiro internacional.

"A Carta ao Povo Brasileiro foi para acalmar o mercado, agora o governo deve acalmar os movimentos sociais", resumiu Antonio Carlos Spis, da direção nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ao contrário da última eleição, em que estiveram afastados do debate eleitoral, neste ano os movimentos sociais irão para as ruas dispostos a conseguir mais do que programas assistencialistas, num reforço à tese de que eleição deve ser conjugada com mobilização popular, sob o risco de não se conseguir transformações sociais.

Ao falar na plenária, o coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST) em Pernambuco, Jaime Amorim, afirmou que não haverá trégua na luta contra o agronegócio e pela reforma agrária. "Vamos garantir que nenhum latifundiário fique em paz", disse. "Ele pode estar na sua casa de praia, mas não vai dormir sossegado, sempre ligando para o caseiro para ver se o cadeado da porteira ainda não foi quebrado."

Ainda ao lado de Lula, diante da convicção de que a eleição do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, seria um retrocesso para as lutas populares, o fórum destacou em um documento aprovado por aclamação que a agenda neoliberal prega tudo o que os movimentos sociais condenam: a volta da Alca (Área de Livre-Comércio das Américas), o abandono da integração latino-americana, aumento do superávit primário, retomada das privatizações e contra as reformas tributária, previdenciária e trabalhista.

O documento unifica as reivindicações de sem-terra, sem-teto, sindicatos, desempregados, associações de pequenos agricultores e estudantes. Lideranças da CUT garantem que não se trata de "mais um documento" nem ele se limita a uma teoria ou tese. Servirá de base para o debate político a ser realizado em todo o País e representa uma plataforma de "desenvolvimento social alternativo, antiimperialista e antineoliberal".

Ele não será entregue a Alckmin nem a Lula. "O projeto passa pelo presidente Lula, mas vai muito além. Até porque Lula não concorda com muitas das propostas", afirmou a diretora de Relações Internacionais da União Nacional dos Estudantes (UNE), Luciana Stumpf.

O documento prega o combate às desigualdades sociais, mudança da política econômica, reforma agrária massiva, reforma urbana e criação de empregos. Pede auditoria e redução dos juros, é contra a autonomia do Banco Central e a criminalização das lutas populares. No 1º de maio, o texto será lido nas manifestações pelos Estados.