Título: EUA admitem erros no Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Internacional, p. A21

Num debate na Inglaterra, Condoleezza diz que houve milhares de falhas táticas, mas defendeu a invasão

Durante seu primeiro dia de visita à Inglaterra, a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, admitiu ontem que os EUA cometeram "erros táticos" no Iraque. Mas ela defendeu a estratégia de remoção do presidente iraquiano Saddam Hussein do poder. O comentário foi feito num debate em Blackburn, norte da Inglaterra.

"Sei que cometemos muitos erros táticos, milhares deles. Tenho certeza", disse Condoleezza, respondendo a uma pergunta sobre se os "EUA haviam aprendido com os erros nos últimos três anos" (a guerra do Iraque começou em março de 2003). "Mas quando você olha para trás na história, o julgamento será sobre se foram tomadas as decisões estratégicas corretas. Acredito firmemente que (a invasão do Iraque) foi a decisão certa, que Saddam tinha sido uma ameaça para a comunidade internacional por tempo demais", afirmou.

"Saddam não iria mudar nada se não houvesse a intervenção militar." Condoleezza não deu detalhes sobre os "erros táticos" e enfatizou que os líderes seriam tacanhos se não absorvessem as lições de sua época. A sessão de perguntas e respostas começou depois que ela fez um longo discurso sobre política externa, no qual afirmou que "ninguém deveria duvidar do compromisso dos EUA com a justiça e a lei".

A visita da chefe da diplomacia americana foi alvo de um barulhento protesto de cerca de 1.500 pacifistas e membros da comunidade muçulmana de Blackburn, uma cidade industrial do norte da Inglaterra. O chanceler britânico, Jack Straw, levou Condoleezza a Blackburn, sua terra natal, em retribuição à recepção que ela lhe deu no ano passado em Birmingham, no Alabama (onde ela nasceu). Depois que os ativistas contra a guerra do Iraque anunciaram a manifestação, uma mesquita que Condoleezza iria visitar cancelou o convite. Nos protestos, a multidão acusava a secretária de crimes de guerra.

À noite, a chegada dela a Liverpool, onde assistiu a um concerto em sua homenagem, foi marcada por forte esquema de segurança e protestos. Mais de mil pessoas se concentraram diante da catedral católica, cantando a música Give Peace a Chance, de John Lennon. Condoleezza disse não ter ficado surpresa. "Vi isso em muitas cidades dos EUA. As pessoas têm o direito de protestar."

IRÃ

Um funcionário do primeiro escalão do Departamento de Estado declarou ontem, sob anonimato, que a opção militar não foi considerada na reunião de quinta-feira de Condoleezza com chanceleres da União Européia, Rússia e China. Mas ressalvou: "Estamos no caminho diplomático, mas nenhuma opção foi tirada da mesa". Jornais americanos publicaram que Condoleezza defendeu sanções contra o Irã, por não suspender um processo suspeito de seu programa nuclear, e recebeu uma resposta irônica do vice-chanceler chinês, Dai Bingguo. "O Oriente Médio já tem turbulência demais", disse Dai, alundido ao Iraque.