Título: Bin Laden pede guerra no Sudão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2006, Internacional, p. A9

A TV árabe Al-Jazira, do Catar, exibiu ontem uma nova fita de áudio do líder da rede Al-Qaeda, Osama bin Laden, na qual ele repete a acusação de que o Ocidente promove uma "guerra de cruzados e sionistas" contra o mundo islâmico. Bin Laden citou como prova disso os esforços de países ocidentais para isolar o novo governo palestino, liderado pelo grupo islâmico Hamas, e a ajuda da ONU às tribos não-árabes de Darfur, no sul do Sudão.

Essas tribos são perseguidas por milícias árabes apoiadas pelo regime islâmico sudanês, o que provocou um grande influxo de refugiados para o sul do Sudão e países vizinhos. A ONU vai enviar a Darfur cerca de 10 mil soldados de uma força de paz internacional. Um pequeno contingente já está na região.

A voz é semelhante à de Bin Laden. A Casa Branca informou que o setor de inteligência americano acredita que a voz é mesmo a de Bin Laden.

A última mensagem de vídeo de Bin Laden foi enviada em dezembro de 2001. Depois disso, surgiram apenas gravações de áudio - a anterior, foi em janeiro. Os EUA suspeitam que ele se esconda numa região tribal no Afeganistão.

"A rejeição do Hamas demonstra que isto é uma guerra dos cruzados e sionistas contra os muçulmanos", disse Bin Laden, que criticou o Hamas por ter se unido às "assembléias dos infiéis" - referência ao fato de o grupo, que quer criar um Estado islâmico na Palestina, ter disputado eleições parlamentares. O Hamas divulgou uma resposta, se distanciando da Al-Qaeda (ler ao lado).

"Faço um chamado aos mujahedin (combatentes islâmicos) e seus partidários no Sudão e na Península Arábica para prepararem o que for necessário para deslanchar uma guerra de longo prazo contra os cruzados no oeste do Sudão", disse Bin Laden, acusando o Ocidente de tentar dividir o país e roubar seu petróleo.

Depois que teve sua cidadania cassada pela Arábia Saudita, Bin Laden morou no Sudão, nos anos 90, sob a proteção do governo local. Mas na gravação ele critica as autoridades sudanesas por não terem imposto a lei islâmica, a Sharia, em todo o país. "Isto significa que haverá uma ação da Al-Qaeda em Darfur, como à que empreendeu no Afeganistão", comentou o jornalista Faris bin Houzan, expert em Al-Qaeda.