Título: Ex-exilado assume o Ministério da Defesa
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Nacional, p. A16

Pela primeira vez desde a sua criação, em 1999, o Ministério da Defesa será chefiado por um civil que classifica como "golpe" o movimento militar de 1964, episódio que fez 42 anos ontem. O baiano Waldir Pires, de 79 anos, cassado pelo regime militar, comandará as três Forças Armadas.

Mesmo com um currículo que inclui participação no governo deposto de João Goulart, o nome de Pires foi recebido com alívio por generais, brigadeiros e almirantes, que temiam a escolha do petista Tarso Genro, ex-trotkista visto como radical. "Um bode saiu da sala", disse um general ao Estado.

Em uma entrevista carregada de emoção, Pires deixou claro que não muda sua visão sobre março de 1964. "Algumas coisas nunca mais", afirmou. Mas defendeu o diálogo. "Os equívocos fazem parte da história e os erros também. As mágoas não ajudam a construir, as mágoas são lições."

No dia da nomeação de Pires, a Ordem do Dia do Exército destacava o "orgulho" pelo passado das Forças Armadas. Pires ressaltou que respeita a posição de quem escreveu o comunicado. "O grande compromisso das Forças é com a paz", minimizou. "O Ministério da Defesa dará um passo importante para a consolidação da democracia, pois o tempo é outro."

Ao Estado, Pires disse que só depois de assumir o cargo é que poderá avaliar o trabalho de localização dos corpos dos desaparecidos políticos. "Vivemos tempo democrático e todos podem se manifestar, mas a gente não pode ser prisioneiro dos equívocos", afirmou. "Temos de olhar para a frente."