Título: Peru: García será o anti-Humala
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2006, Internacional, p. A11

Cerca de 500 mil votos do primeiro turno da eleição presidencial do dia 9 no Peru ainda não foram contados, mas jornais e analistas peruanos ouvidos pelo Estado consideraram ontem definidos os dois candidatos que estarão no 2º turno da disputa. Caberá ao ex-presidente Alan García, da Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), a tarefa de tentar evitar que o nacionalista Ollanta Humala, da coalizão União Pelo Peru (UPP), chegue à presidência.

Apurados 97,24% dos votos, Humala seguia firme na liderança - já garantido no 2º turno -, com 30,75% dos votos. García superava Lourdes Flores, da Unidade Nacional (UN), por 85.733 (0,71%) votos. Embora a diferença seja pequena, as chances de Lourdes reverter a situação e chegar ao segundo turno são mínimas, de acordo com vários especialistas peruanos.

"Os 2,76% de votos que ainda não foram apurados são de atas sujeitas à validação dos juízes eleitorais - por erro no preenchimento ou pedidos de impugnação por parte de fiscais dos partidos", disse o editor de Política do jornal peruano El Comercio, Juan Paredes. "Elas vêm de várias partes do país e devem reforçar a atual tendência."

Diante da virtual definição, o Jurado Nacional de Eleições (JNE) autorizou ontem mesmo o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (Onpe, pelas iniciais em espanhol) a realizar o segundo turno da disputa presidencial em 28 de maio. O cronograma só sofrerá alterações se o Onpe não conseguir contar os 100% dos votos do primeiro turno até o fim da semana.

A diferença entre García e Lourdes se mantém estável - variando entre 0,7 e 1,2 ponto porcentual - há duas semanas.

No sábado, em Lima, eram fortes os rumores de que Lourdes preparava um discurso no qual reconhecia a derrota para García. Mas ontem seus assessores reiteraram que a candidata esperará até a contagem do último voto para fazer qualquer tipo de pronunciamento sobre resultados ou possíveis alianças para o segundo turno. Aferrada à esperança de um milagre, Lourdes se mantém fechada em sua casa.

García, por seu lado, certo da vitória, já pôs em marcha sua campanha para o segundo turno. O jornal de Lima La República, que também já dá por definido o resultado do primeiro turno, informa que assessores do partido de García já foram enviados ao sul do país, onde Humala é mais forte. Nesta região, eles divulgarão as propostas sociais e de criação de empregos de García. Com isso, o Apra pretende adotar a plataforma de inclusão social de Humala e explorar o que chama de "pouca vocação democrática" do nacionalista.

Segundo as últimas pesquisas de intenção de voto da Apoyo - realizadas ainda antes do primeiro turno -, a disputa entre Humala e García no segundo turno estaria tecnicamente empatada, com ligeira vantagem para o candidato nacionalista. Ambos têm uma forte rejeição, principalmente em Lima, onde os votos brancos e nulos devem superar os 30%.

Humala, um tenente-coronel da reserva que se rebelou em 2000 contra Alberto Fujimori, é temido pela classe média por suas propostas radicais de nacionalizar a exploração dos recursos naturais do país e por seus vínculos com os presidente venezuelano, Hugo Chávez, e cubano, Fidel Castro.

Já a rejeição a García se explica por sua desastrosa administração, entre 1985 e 1990, quando a hiperinflação e o terror da guerrilha maoísta Sendero Luminoso se espalharam pelo país.