Título: Lula: 'Meu desejo não é ser candidato outra vez'
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2006, Nacional, p. A6

Após ouvir de líder da Contag que entidade fará campanha por sua reeleição, presidente diz que sonho é comparar seu governo com o de antecessores

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que seu sonho não é ser candidato de novo, mas comparar o que fez em seu governo com o que fizeram seus antecessores. "Um sonho que eu tenho, e o meu desejo, não é o de ser candidato outra vez. É, ao terminar meu mandato, comparar o que fizemos para o povo pobre com tudo que foi feito antes e medir, para ver se houve evolução ou não", declarou Lula, depois de ouvir do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Manoel dos Santos, em cerimônia no Planalto, que o conselho da entidade decidiu fazer campanha por sua reeleição.

"Um presidente da República não tem o direito de reivindicar ser candidato, até porque ele já é presidente", disse Lula. "Essa coisa, ela pode ser ou não construída e nós temos muito tempo pela frente ainda."

Ele falou de improviso e não se mostrou muito animado, nem mesmo quando a platéia o aplaudiu por conta do discurso de Manoel Santos em favor de sua reeleição. Lula agradeceu o fato de o presidente da Contag ainda considerá-lo companheiro, mesmo depois de três anos e quatro meses de governo.

"Esse é um valor que eu considero incomensurável, extraordinário, porque demonstra que o poder não subiu à minha cabeça e muito menos o poder fez com que houvesse distanciamento meu e dos companheiros que, no fundo, no fundo, é para onde eu vou voltar quando sair daqui", disse o presidente. "No fundo, eu posso espremer daqui, espremer de lá, mas quando eu for olhar os meus companheiros, eles estarão no meio de vocês e, então, é para lá que eu tenho de retornar."

TÉCNICOS

No dia em que indicou como ministros um grupo de técnicos e políticos menos conhecidos, Lula disse que "é tempo de colher" e fez referência indireta à pouca visibilidade dos novos titulares - a maior parte, antigos secretários-executivos dos respectivos ministérios.

Segundo o presidente, a regra geral para a substituição dos 9 ministros que deixaram o governo por causa das regras para as eleições foi dar continuidade ao trabalho. Com exceção dos ministérios políticos. "Para o cotidiano da relação com o Congresso, com os partidos políticos, tem de ter um ministro com visibilidade muito grande para isso", observou.

Na cerimônia, Lula disse que "não foi fácil a despedida" e justificou por que escolheu os secretários-executivos. "Não estamos mais na época do plantio, estamos na época da colheita, não temos de comprar mais nenhuma máquina nova, nós não temos de ficar mais fazendo o manejo da terra, ou seja, nós plantamos há três anos, adubamos essa terra, agora estamos em época de colheita", discursou. "Se o pessoal já está trabalhando lá, já plantou, já capinou, já tirou todos os carrapichos que tinha, aquele matinho baixo... já que nós limpamos a área, nós, na maioria dos casos, manteremos a continuidade do processo, para que a gente não comece tudo de novo."