Título: Formiguinhas pedalam 4 dias para levar 60 kg da droga
Autor: Luciana Garbin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Metrópole, p. C5,6,7

Eles partem em comboios de 5, 6, 7 bicicletas. Sempre à noite, na beira da estrada. Na garupa, 50, 60 quilos de maconha. São os formiguinhas, gente que tem como desafio vencer a pedaladas os 120 quilômetros entre Ponta Porã e Dourados. Para isso, levam quatro dias de viagem. Daí, a droga se espalha. "Mas, se vêem alguma luz na estrada, eles se atiram no mato", conta J., policial rodoviário federal especialista em pegar formiguinhas - já deteve 35 e apreendeu 5 toneladas de maconha em bicicletas.

O esquema, porém, não se restringe à maconha. Nada mais fácil de encontrar na fronteira que mulheres à beira da estrada pedindo carona. Perto, escondem caixas de produtos comprados no Paraguai, geralmente cigarros. Quando o carro pára, elas embarcam com a mercadoria. Fazem de 3 a 5 viagens por dia. Muitas vezes, a mando de contrabandistas.

Algumas já são velhas conhecidas de policiais. "Você de novo? Esquece essa vida", recomendou um policial a Christiane Pereira, de 22 anos, presa pela enésima vez com cigarros em Ponta Porã. Ela apenas riu.

Muitos taxistas participam do esquema. Como Gilberto de Almeida, que cobrou R$ 25,00 para levar três amigas com 3.500 maços de cigarro da fronteira à estrada de Sanga Puitã, onde pediriam carona. "Sei que não pode trazer, mas vira e mexe o pessoal pede."

Inspetor da PRF em Mato Grosso do Sul, Ademilson de Souza diz que por trás do esquema formiguinha há o crime organizado. Difere, portanto, de quem vai ao Paraguai comprar produto com dinheiro próprio para revender. Como Juliano de Oliveira, pego há dez dias com cem pacotes de cigarro. Comprou-os por R$ 260,00 em Pedro Juan Caballero; pensava revendê-los por R$ 500,00. "É a crise na agricultura que faz isso com a gente."