Título: Nas mãos, o futuro do partido
Autor: Iuri Pitta
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Metrópole, p. C3,4

Acostumado a atuar nos bastidores da política e na organização partidária, agora Gilberto Kassab terá de deixar claro como lida com os colegas de ofício à frente de um cargo executivo. Para cientistas políticos ouvidos pelo Estado, o caminho que o novo prefeito escolher para articular uma base de sustentação na Câmara vai mostrar mais do que uma opção individual. Vai definir a forma de atuação do próprio PFL, que tem a chance de aumentar a força política na cidade e no Estado mais ricos do País.

"O PFL tirou a sorte grande ao herdar os dois maiores orçamentos públicos depois da União. Como vai lidar com a situação, só o tempo dirá", avalia o professor Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e estudioso das relações entre Prefeitura e Câmara na capital. Segundo o cientista político, pelo passado ligado ao malufismo - Kassab foi vereador da base governista de Paulo Maluf e secretário de Planejamento de Celso Pitta -, o prefeito poderia ficar tentado a adotar métodos semelhantes de conquistar aliados, associados ao fisiologismo. "Risco há, não só para formar uma base de apoio, mas para o próprio crescimento do partido."

Teixeira pondera, no entanto, que o discurso do PFL, ainda em formação em São Paulo, tende a ser diferente do malufista. "Seria mais próximo do liberal clássico, do que chamam de direita civilizada, aberta ao debate", explica o professor.

Outra diferença entre o malufismo e o PFL apontada por Teixeira e pelo cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (Cepac), é de caráter pessoal. Não há na legenda uma figura populista e com força individual como Maluf. "É muito difícil existir malufismo ou algo que o valha sem o próprio Maluf, que é uma figura singular e folclórica, bem diferente de Kassab", diz Figueiredo.

O diretor do Cepac lembra eleições recentes para dizer que São Paulo não tem um voto conservador fiel. "Há um vaivém grande, de Jânio Quadros a Luiza Erundina, depois Maluf, Pitta e Marta Suplicy, chegando a Serra. O eleitor acaba votando muito mais pela avaliação que faz de quem está no cargo que por convicção ideológica."