Título: Brasil não investe e não cresce
Autor: Alberto Tamer
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Economia & Negócios, p. B12

Saiu o dado oficial do IBGE sobre o PIB do ano passado, 2,3%, conforme já tinha sido anunciado, e, imediatamente, surgiram as mais variadas interpretações. Falaram até que passamos a ser a 10ª economia mundial... em dólares desvalorizados... É preciso atentar para os dados que comparam com o desempenho de 2004 e as distorções para chegar-se a uma conclusão diríamos neutra, que reflita o real desempenho da economia brasileira em 2005.

Mais ainda, é indispensável levar em conta o momento político e econômico para evitar previsões precipitadas, como a do novo ministro da Fazenda de que o PIB brasileiro neste ano irá crescer 4,5% ou mesmo do Banco Central (BC) que estima em 4%.

Tudo irá depender, primeiro, do desempenho da economia mundial com seus desdobramentos sobre as exportações e dos investimentos externos e internos. Tanto o mercado como o BC mantêm uma taxa de investimento de 6,6%, incompatível com uma expansão do PIB de 4%. Há, sem dúvida, pressão para reduzir a taxa de juros, há os gastos eleitorais que os governos federal, estadual e os candidatos fazem (não são "investimentos" produtivos...) e aumentarão ainda mais mas, em contrapartida, há o peso significativo da fuga de capitais e de investidores das grandes empresas estrangeiras."

MENOS RECURSOS EXTERNOS

No primeiro número da Sinopse divulgado ontem, a Agência Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib) lembra que "o capital estrangeiro no Brasil já participou em 28% do total da formação bruta de capital fixo no biênio 1999-2000, mas representou pouco mais de 15% em 2004".

Enfim, há várias interpretações para esses números oficiais, principalmente aquela bizarra - para não dizer ridícula - afirmação que, em 2005, passamos, em dólares, a ser a 10ª - ou a 11ª - economia mundial, já que o nosso PIB saltou para US$ 797 bilhões - ou seja, 30% a mais do que em 2004! Ora, isso é um simples artifício aritmético, pois deve-se à valorização do real, da ordem de 20%!

A MELHOR ANÁLISE

Quem analisou com maior realismo esses números foram os economistas da GRC Visão, de Paulo Rabelo de Castro. "A valorização do real entre 2004 e 2005 ante o dólar trouxe o efeito positivo na economia brasileira ao reduzir drasticamente muitos índices inflacionários (alguns com forte composição em dólar), aumentando assim o poder de compra dos salários reais. Mas isso foi combinado com a maior taxa de juros reais e nominais do mundo, o que ocasionou crescimento tão baixo do País no ano passado e uma redução dos ganhos do setor exportador. Esta redução só não foi maior e danosa por ter sido compensada pela forte demanda mundial por commodities e produtos básicos."

E a análise vai mais longe, o PIB da agropecuária no ano passado foi de US$ 145,8 bilhões, uma queda de 1,1 ponto porcentual. Acentua ainda que o pior inimigo da agropecuária foi a forte valorização do real, com os agricultores comprando insumos e máquinas em 2004 para a safra do ano seguinte a R$ 2,65 e vendendo, no fim da safra, a R$ 2,30. Só aí uma perda de 13%!

E O CONSUMO DAS FAMÍLIAS?

Também aqui há interpretações distorcidas. Ele ficou em R$ 1.075,3 bilhão, 55,5% do PIB. Ótimo? Maravilhoso? Não, pois esse valor representa uma alta de apenas 0,3 ponto porcentual em relação a 2004.

O consumo do governo foi de R$ 378,7 bilhões, ou seja, 19,5% do PIB, um resultado também pouco significante, apenas 0,7 ponto sobre o ano anterior.

SETOR EXTERNO

A análise encerra-se mostrando que, embora o setor externo tenha registrado um superávit de R$ 84,9 bilhões, representando 4,4% do PIB, houve uma queda de 0,3 ponto em relação ao ano anterior. Mais uma vez, o dólar desvalorizado.

Pode-se argumentar diante desse número que o setor externo não teve e não tem o peso que se lhe atribui, em termos de valores, mas isso leva em conta apenas uma parte menor do seu peso na economia. As exportações são fontes, geram não só empregos e consumo das famílias - sem o que o PIB teria sido ainda menor - e compensam a queda dos investimentos diretos.

INVESTIMENTO E EXPORTAÇÃO

E, aqui, voltamos de novo aos dois pontos principais da economia brasileira, neste ano: exportação para gerar emprego, receita cambial crescente, indispensável e investimentos principalmente externos. Por que não os internos? Porque o empresário nacional tem a mesma visão que está lá fora quanto à política econômica brasileira. Sua exposição, seus riscos, podem ser menores, mas ele está indo para onde há mercado, desviando recursos que poderiam estar sendo investidos aqui, e principalmente importando componentes externos que antes produzia no País, já que a "solução" aparentemente encontrada pelo governo foi facilitar as importações.

Os investimentos externos sumiram, os internos deverão crescer ainda menos e provavelmente irão sofrer forte retração. Como lembrou o prof. Affonso Celso Pastore, em artigo no Valor, o que pesa é o desejo político de Lula, não de Mantega. Só promessa não adianta.

E, acrescento, ainda mais num turbulento ano eleitoral.