Título: Pela reeleição, Lula tenta conter PT
Autor: Vera Rosa e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Nacional, p. A7

Em clima de volta ao passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará na sexta-feira da abertura do 13º Encontro Nacional do PT, que durante três dias vai debater as diretrizes de seu programa de governo à reeleição e a política de alianças. A situação é insólita: o PT vai recepcionar o presidente como candidato, sob os acordes do tradicional jingle "Lula lá" - que marcou a campanha petista de 1989 -, mas ele não assumirá a candidatura. Deixará o anúncio para junho.

Na pajelança, o antigo Campo Majoritário fará de tudo para sepultar a crise do mensalão, que atingiu em cheio seus principais dirigentes, embora a facção Democracia Socialista e a ultra-esquerdista O Trabalho defendam a depuração interna.

A ordem do Palácio do Planalto é evitar a todo custo que o encontro se transforme em palco para lavagem de roupa suja em plena campanha. Nada de pregar ruptura com o modelo econômico, como andaram defendendo radicais e até moderados antes da queda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Discussões mais aprofundadas de temas espinhosos, como punições dos chamados mensaleiros, também devem ser empurradas para depois das eleições, de preferência para o congresso do partido, em 2007.

Tudo vem sendo preparado para que a reunião petista não cause dor de cabeça a Lula. No Planalto, o argumento é um só: o PT não pode dar munição para os adversários. Até mesmo as críticas mais contundentes à política econômica e ao Banco Central foram riscadas dos documentos internos.

Bastante modificado, o texto sobre diretrizes do programa - escrito por Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula e vice-presidente do PT - tem hoje o tom de exaltação das "realizações" do governo. O discurso dos petistas é de que o País crescerá de forma "ainda mais" acelerada num eventual segundo mandato de Lula. Não se trata mais de corrigir a rota. "O fundamental é afirmar a validade da transição de um velho Brasil para um novo projeto nacional de desenvolvimento", diz um dos trechos do documento.

Com 1.200 delegados inscritos, o encontro será realizado na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo e, segundo cálculos do tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, custará R$ 1,5 milhão.

Até agora, o capítulo que pode causar alguma polêmica diz respeito ao tamanho das coligações. "As alianças devem ser as mais amplas possíveis. Não é hora de fechar a porta", afirma o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), reproduzindo avaliação de Lula.

Preocupado com a montagem dos palanques nos Estados, Lula exige carta branca para negociar com o PMDB - considerado "fundamental" para o projeto da reeleição - e com quem bem entender, mesmo que para isso seja necessário sacrificar candidaturas petistas.

O secretário-geral do PT, Raul Pont, diz que lutará para que o PTB do ex-deputado Roberto Jefferson - autor das denúncias do mensalão - seja impedido de firmar parcerias com o partido em todos os níveis. "É uma sigla de aluguel", insiste Pont. Sua idéia não deve prosperar. O PTB anunciou que no primeiro turno não fará coligação oficial com Lula, mas nos Estados pode haver dobradinhas.

"É urgente romper as alianças com os partidos da burguesia corrupta submetida ao imperialismo", protesta a corrente trotskista O Trabalho em texto recheado de críticas ao governo. No documento inscrito para debate, a ala minoritária vai além: diz que Lula trai compromissos assumidos com o povo ao se submeter ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, a quem chama de "assassino e torturador".

Em um gesto mais político do que prático, o documento que será mesmo aprovado sobre política de alianças deverá conter proibição expressa de uniões do PT com o PSDB e o PFL. Detalhe: a regra da verticalização já impede que adversários no plano nacional se aliem nos palanques estaduais.

PETROBRÁS

A candidatura ainda negada de Lula teve uma vitória ontem. O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, César Rocha, determinou o arquivamento da representação do PSDB que pedia a suspensão da propaganda da Petrobrás sobre a auto-suficiência de petróleo. Para o PSDB, a campanha promoveria Lula.