Título: Partido quer trégua entre Mercadante e Marta
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Nacional, p. A7

A direção do PT em São Paulo deve reunir os dois pré-candidatos do partido ao governo, a ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante, para acertar um pacto de não agressão e esfriar a guerra de bastidores estabelecida entre as equipes de ambos a menos de duas semanas da prévia, marcada para o dia 7 de maio. Conforme revelou o Estado, aliados da ex-prefeita temem que o resultado da votação em 150 cidades seja fraudado em benefício da candidatura de Mercadante.

A suspeita provocou a revolta de coordenadores do partido no interior e na Grande São Paulo. Dos 18 coordenadores, apenas um não assinou nota divulgada ontem para "repudiar qualquer insinuação de que militantes do PT de 150 cidades estejam compactuando com a fraude". O texto ressalta que "as poucas dúvidas e desentendimentos (sobre os resultados da última eleição interna, em setembro) ocorreram na cidade de São Paulo (na base de Marta) e foram fruto de análise da executiva estadual e resolvidas pela mesma". Todos os signatários defendem a candidatura de Mercadante ao governo.

O risco de fraude, segundo correligionários da ex-prefeita, surgiu por causa do resultado "suspeito" da eleição de setembro em várias cidades, favorecendo Frateschi. Nesses municípios, aliados de Marta alegam ter ouvido relatos de que a urna de votação teria sido levada até a casa dos militantes, entre outras irregularidades. Em Sagres, por exemplo, na região da Alta Paulista, 20 filiados estavam aptos a votar. Todos optaram por Frateschi, que era candidato do Campo Majoritário, com apoio de Marta. O presidente estadual, simpático a Mercadante, nega irregularidade.

A proposta para o "armistício" nasceu de uma sugestão do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). "Conversei com a Marta e recomendei a ela que dissesse algumas coisas que pensa ao partido", contou o senador, sem dar detalhes. "Gostaria muito de chamá-los para uma conversa", disse Frateschi. "Vamos garantir a harmonia da prévia." Os dois se encontraram ontem no lançamento do livro de Mercadante - "Brasil: Primeiro Tempo - Análise Comparativa do Governo Lula" -, com prefácio do presidente Lula.

"Tá muito tranqüilo o clima", desconversou o senador, dizendo-se confiante na vitória, enumerando apoios obtidos entre dirigentes petistas, ministros e o próprio Lula. "Acho muito importante que haja toda transparência e uma fiscalização bastante vigorosa para que o resultado das urnas seja exatamente a vontade da militância."

Tanto ele como a ex-prefeita negam que o PT sairá rachado da prévia, a única marcada pelo partido em todo o País.

Apesar do discurso conciliador, aliados do senador estavam furiosos ontem com o "fogo amigo" e já falam em montar um esquema reforçado de fiscalização na capital, principal base da ex-prefeita.

Marta deve acompanhar Lula na agenda em São Paulo no fim desta semana e no início da próxima, no esforço de dissipar os boatos de que teria pedido a ela que desista da disputa. "Não há esse clima de hostilidade por parte da Marta e da coordenação da campanha. Ela participa de qualquer reunião, desde que não seja para pedir que retire sua candidatura", afirmou Jilmar Tatto, um dos coordenadores da ex-prefeita.