Título: Para ruralista, MST declarou guerra no campo
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Nacional, p. A9

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, acusou ontem o coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST) Jaime Amorim de pregar o conflito no campo.

Ao falar no encerramento do 2º Fórum Social Brasileiro, domingo, no Recife, Amorim garantiu que não haverá trégua na luta contra o agronegócio e nenhum latifundiário vai ficar em paz. "Ele pode estar na sua casa de praia, mas não vai dormir sossegado, sempre ligando para o caseiro para ver se o cadeado da porteira ainda não foi quebrado", afirmou.

Nabhan contou que a frase foi entendida como uma declaração de guerra. "Um proprietário rural, revoltado, me procurou para avisar: o primeiro que encostar a mão no seu cadeado, ele manda para o inferno."

Na opinião do presidente da UDR, a declaração é muito grave e reflete o sentimento de impunidade e de estar acima da lei do MST, que é "incentivado" pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não é à toa que foi feita logo depois que o presidente encheu a bola do MST e atacou os produtores rurais", criticou.

Na semana passada, o presidente afirmou que desejava ser cobrado pelos movimentos sociais e, ao mesmo tempo, criticou os agricultores que não pagam os financiamentos que fazem, referindo-se a eles como "laranjas podres". Nabhan disse que Lula "discrimina" os produtores rurais e dá aval a ações do movimento dos sem-terra.

Ele deu as declarações depois que o MST anunciou a intenção de levar seus protestos também para as cidades. No 2º Fórum Social Brasileiro, na semana passada, o movimento informou que se prepara para se urbanizar, ensinar os desempregados e trabalhadores não organizados a ir para a rua "fazer a luta", reivindicar, em grandes ações conjuntas com outras entidades, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e movimentos de sem-teto, desempregados, perueiros.

"Eleição não basta", argumentou outro coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues. "Só se conseguem mudanças estruturais e na política econômica com o povo nas ruas."

Ontem, Nabhan disse que "só alguém que não está em seu juízo normal pode considerar todo esse vandalismo do MST como reivindicações de um movimento social". A dívida do setor rural, na sua opinião, é resultado da política econômica "paternalista e populista" do governo. Já invasões e danos à propriedade alheia, segundo ele, são "crimes, mas tratados com leniência e conivência" pelo governo. "Quando começamos a não ter mais confiança na lei, a situação se torna perigosa e o aviso do produtor faz sentido."