Título: 'Mudança nas regras do jogo é o maior risco'
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2006, Economia & Negócios, p. B8

Presidente do BID diz que as condições macroeconômicas no Brasil são muito boas

Entrevista

Luis Alberto Moreno, presidente do BID

O colombiano Luis Alberto Moreno, 53 anos, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), acha que o maior risco para os países da América Latina são as mudanças nas regras do jogo econômico. Ele assumiu o cargo em outubro de 2005, substituindo o uruguaio Enrique Iglesias, que ficou 17 anos na função. A seguir, os principais trechos da entrevista de Moreno ao Estado:

A mudança no Ministério da Fazenda traz riscos ao Brasil?

As condições macroeconômicas no Brasil são muito boas e há muita confiança no que o presidente Lula fez. As pessoas confiam no Brasil pelos fundamentos. Veja, por exemplo, o crescimento das exportações. É muito impressionante.

Por que o Brasil cresce tão pouco?

Há sempre um custo da estabilidade, de controlar a inflação. Mas as taxas de juros já estão caindo. E há também, é claro, esta valorização das moedas na América Latina, em conseqüência da alta do preço das commodities. Isto atingiu nossas economias severamente, e é algo difícil de administrar.

O BID vai aumentar os financiamentos ao setor privado, como o Brasil defende?

Temos que fazer mais no setor privado, mas o problema é como. Esta é discussão que teremos aqui, sobre como podemos ampliar nosso mandato. Há muito espaço no Brasil para parcerias público-privadas.

E a possibilidade de o BID captar em reais?

Estamos trabalhando com o BNDES, mas a questão é como obter a melhor taxa. Seria muito bom para o Brasil e é o tipo de coisa que o BID deveria fazer.

Como o sr. vê a guinada da América Latina para a esquerda, como o caso de Hugo Chávez, na Venezuela, e Evo Moralez, na Bolívia?

Sempre tivemos relações com governos de centro, direita e esquerda. As políticas econômicas são, de maneira geral, muito boas na América Latina. Aprovamos na Venezuela um projeto hidrelétrico de grande porte, de cerca de US$ 750 milhões de dólares, e estamos trabalhando também nas áreas de educação e com programas de assistência técnica.

O sr acha que o populismo poderia prejudicar o crescimento econômico na região?

O maior risco para a trajetória de crescimento é a mudança das regras do jogo na economia.

Mas o sr. é contra mudanças de modelo econômico? Nos seminários desta reunião do BID, houve muita discussão justamente sobre este tema.

É bom que haja o debate, porque qualquer decisão será bem pensada. Mas mudar achando que o mercado não tem um papel a representar é uma mudança muito grande.