Título: Abbas e Hamas trocam ameaças
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Internacional, p. A13

O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, enviou ontem uma dura advertência ao grupo fundamentalista islâmico Hamas, lembrando seus dirigentes que pode destituir o governo. "A Constituição me dá a autoridade clara e definida para remover o governo do poder, mas não quero usar essa autoridade" enfatizou Abbas, em entrevista à TV a cabo CNN da Turquia, onde ele chegou domingo em visita oficial.

Em janeiro, o Hamas venceu as eleições parlamentares e, no fim do mês passado, assumiu o controle do governo, que no sistema parlamentar palestino se encarrega dos assuntos domésticos. Mas o grupo se recusa a reconhecer os acordos de paz firmados com Israel e a abandonar a luta armada. Já o presidente palestino, eleito em janeiro de 2005, é o encarregado da política externa e das forças de segurança.

"O Hamas tem de mudar algumas de suas posições políticas. Vamos esperar um pouco e ver se mudará", afirmou Abbas. "O Hamas ainda continua agindo como se fosse oposição. Tem de enfrentar a realidade, tem de estabelecer contato com Israel para poder atender às necessidades diárias do povo palestino." Na semana passada, o Hamas expressou apoio ao atentado suicida cometido pela Jihad Islâmica em Israel, que matou nove israelenses.

Embora Abbas tenha dito que não pretende usar o poder de destituir o governo, o jornal israelense Yediot Ahoronot, destacou em sua edição de ontem que ele tem um plano secreto para fazer isso, contando com o apoio dos EUA, Egito, Jordânia, Arábia Saudita e Israel.

Na semana passada, o Hamas acusou a Fatah, partido de Abbas, de planejar removê-lo do poder. Ontem, os comentários de Abbas provocaram indignação no Hamas. Um de seus líderes, falando sob anonimato, disse ontem que eles não deixarão o poder "em silêncio". "Não vamos participar em nenhuma nova eleição. Iremos para a clandestinidade, como já fizemos antes, e não vamos aderir a nenhum acordo ou trégua", ameaçou ele. O Hamas tem cumprido os termos de uma trégua nos ataques contra Israel firmada há 15 meses entre Abbas e os grupos palestinos.

Militantes do Hamas e da Fatah entraram em choque por duas vezes no fim de semana na Faixa de Gaza, deixando um saldo de mais de 30 feridos. Ontem, o enviado da ONU para o Oriente Médio, Alvaro de Soto, disse ao Conselho de Segurança que o conflito palestino-israelense está se agravando e pode levar ao aumento da pobreza nos territórios ocupados.