Título: Partido de Lourdes admite derrota
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Internacional, p. A14

Após uma tensa espera de 15 dias, assessores da candidata conservadora à presidência Lourdes Flores admitiram ontem ter perdido a vaga restante do segundo turno da eleição presidencial peruana para o ex-presidente Alan García. Segundo colocado na eleição do dia 9, García enfrentará o candidato nacionalista Ollanta Humala na segunda votação, marcada para 28 de maio.

O reconhecimento da derrota de Lourdes se deu após a divulgação do boletim com 98,15% dos votos apurados. Nele, Humala aparece com 30,71% dos votos, seguido de García, com 24,33%, e Lourdes, com 23,66%. Em termos absolutos, a diferença de García para Lourdes era de 81.980 votos.

"Acredito que já não temos mais como alcançar esses votos que nos separam de García, o que significa que ele deve passar para o segundo turno", disse Rafael Rey, um dos assessores da campanha da Unidade Nacional (UN), de Lourdes, e deputado eleito para o Parlamento Andino. "Não devemos agora passar a impressão de que não sabemos perder."

"Considero nossa situação bastante difícil", declarou, por seu lado, um dos candidatos a vice-presidente na chapa de Lourdes, Arturo Woodman.

A candidata da UN - sobre a qual circularam rumores de que reconheceria a derrota no sábado - anunciou que só fará um pronunciamento sobre o resultado, seja ele qual for, depois da contagem de 100% dos votos, o que deve ocorrer hoje ou amanhã. Embora não haja decisão oficial sobre apoios, a UN tende a unir-se a García na segunda votação.

Com a definição dos concorrentes que seguem no páreo, o segundo turno deixará frente a frente dois candidatos com um alto grau de rejeição, principalmente na região de Lima, a mais populosa do país. As pesquisas mais recentes que simulavam um embate direto entre García e Humala indicavam um empate técnico entre os dois.

Humala, de 42 anos, é um tenente-coronel da reserva do Exército peruano. Em 2000, liderou ao lado de seu irmão Antauro uma revolta militar contra Alberto Fujimori. Antes, tinha comandado um batalhão anti-subversivo em Madre Mía, sul do Peru. Por causa da atuação nessa frente militar, Humala é alvo de várias denúncias de violação de direitos humanos.

O nacionalista é admirador confesso do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e do líder cubano Fidel Castro. Segundo seus adversários, sua chegada ao poder afastaria o capital externo do Peru e suas posições autoritárias representariam uma ameaça à democracia.

Por seu lado, García, de 56 anos, teve um desempenho desastroso quando governou o Peru, entre 1985 e 1990. Durante esse período, a hiperinflação bateu recordes sucessivos no país e o terror da guerrilha maoísta Sendero Luminoso se espalhou por todo o território peruano.

No comando da mais eficiente e mais tradicional máquina partidária remanescente no país - a Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), fundado em 1924 -, García pretende ganhar votos dados a Humala no primeiro turno assumindo a agenda social do candidato nacionalista nas áreas mais pobres e afastadas do país.