Título: Ucrânia pede ajuda para deter efeitos da tragédia de Chernobyl
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2006, Vida&, p. A18

Às vésperas da data que marca os 20 anos do pior acidente nuclear do mundo, o governo da Ucrânia faz um alerta: se as obras para cobrir definitivamente a usina de Chernobyl não forem aceleradas, será toda a Europa que correrá o risco da radiação. "Atrasos nas obras poderão custar muito para todo o continente", afirmou o presidente ucraniano, Viktor Yushchenko, que também pediu apoio internacional para revitalizar a zona contaminada.

Ontem, em Kiev, cientistas publicaram um estudo apontado que o desastre na Ucrânia gerou a contaminação de cerca de 40% de todo o território europeu e alertando que o número de vítimas pode chegar a 60 mil, e não apenas 5 mil como indicou a ONU.

Amanhã a comunidade internacional relembra os 20 anos do acidente, mas o debate político sobre o desenvolvimento da região e a construção de uma estrutura que proteja a usina ainda gera polêmica.

PERIGO PERSISTENTE Após o desastre, uma estrutura foi construída para evitar que a radiação continuasse a sair da usina. Mas duas décadas após, Chernobyl precisa de um novo sarcófago para conter as cerca de 200 toneladas de material radioativo ainda dentro da usina. A comunidade internacional já prometeu mais de US$ 1 bilhão para o projeto.

Desentendimentos entre a empresa que ficará responsável pelo projeto e o governo ucraniano, porém, impediram que o início da construção fosse anunciado durante os eventos deste ano.

Yushchenko prometeu que as obras começam em meados do ano e que o novo sarcófago ficará pronto até 2010 - e não 2008, como antes planejado.

SOCIALIZAR O PREJUÍZO O presidente ucraniano, que ontem abriu os eventos que marcarão o aniversário do acidente, ainda fez um apelo para que a comunidade internacional ajude o país a reconstruir a região. "Precisamos acabar com a imagem de Chernobyl como uma inflamação incurável. Precisamos restabelecer vida nessa região", disse.

Segundo ele, a Ucrânia já gastou 10% de seu orçamento dos últimos anos com a usina e não pode mais pagar sozinha por um acidente ocorrido quando o país ainda era governado pela União Soviética. "Os prejuízos para o país somarão US$ 170 bilhões até 2015", queixou-se o presidente.

Yushchenko também atacou os ex-dirigentes soviéticos pela falta de informação.

"Chegou a hora de todos saberem a verdade. O problema é que, até hoje, não sabemos a razão, a magnitude e as conseqüências do acidente", afirmou o presidente, que ontem foi alvo de um protesto na capital Kiev por sua estratégia de construir 11 usinas nucleares no país. Pressionado pela manifestação, em seu discurso Yushchenko deixou claro que a Ucrânia já aprendeu as lições da tragédia.